12 de julho de 2013

POEMA DE JOÃO VÁRIO

João Vário (1937-2007) nasceu no Mindelo, Cabo Verde, e deixou uma obra poética extensa, mas pouco conhecida do grande público. Considerado pelos especialistas o maior poeta africano do século XX, nunca foi publicado em Portugal. 

Agora chega até nós Exemplos, um volume que reúne uma sequência de nove livros de poesia publicados entre 1966 e 1998. A Língua Portuguesa é, par exelence, uma Língua de poetas mortos, imagine-se, 
João Vário nunca foi publicado em Portugal....




Exemplos
Edição/reimpressão: 2013
Páginas: 312
Editor: Tinta da China
ISBN: 9789896711603




Há muito passado no estar aqui com o tempo,
Fim e reconhecimento, e não sofrendo nada mais do que o tempo concede,

Fim de novo e reconhecimento de novo
E tudo é crime, ou crime sempre, crime ou crime,
Criminosissimamente crime,
Quando arriscamos a intensidade, comemorando.
Aumento e festa, ou cilício, e tempo de cair e tempo de seguir,
Tempo de mal cair e tempo de mal seguir,
Oh amamos tanto, amamos tanto estar aqui com o tempo
E sabendo que há nisso pouco passado.
Porque maiores que os desígnios da vida
São os desígnios da medida e, divididos
Em dois por eles, com eles indo, se por eles
Ganhamos o tempo, pedimos a forma mais fácil
De indagar que vamos morrer e, um dia, se
O tempo for deles e, a memória, de outros,
Havemos de ser úteis como mortos há muito,
Sem que a causa, o delírio, a designação,
O julgamento nossa medida abandonem,
Dividida em duas por elas, e ganhando constância.

Depois, depois faremos ou fará o tempo, por sua vez,
Aquele blasfemíssimo comentário,
E então consta que amámos.


João Vário (Cabo Verde)



Um comentário:

António Eduardo Lico disse...

Não é a primeira vez que sucede algo assim, infelizmente.
Sinceramente não conhecia a poesia deste magnífico poeta.
Abraço caro amigo.