Silves - O Castelo - foto de Albert Cariaux
Eia, Abú Bacre,
saúda os meus lares em Silves e pergunta-lhes
se, como penso,
ainda se recordam de mim.
Saúda o Palácio
das Varandas da parte de um donzel
que sente
perpétua saudade daquele alcácer.
Ali moravam
guerreiros como leões e brancas
gazelas. E em que
belas selvas e em que belos covis!
Quantas noites
passei divertindo-me à sua sombra
com mulheres de
cadeiras opulentas e talhe fatigado
Brancas e morenas
que produziam na minha alma
o efeito das
espadas refulgentes e das lanças obscuras!
Quantas noites
passei deliciosamente junto a um recôncavo
do rio com uma
donzela cuja pulseira rivalizava com a curva da corrente!
O tempo passava e
ela servia-me o vinho do seu olhar
e outras vezes o
do seu vaso e outras o da sua boca.
As cordas do seu
alaúde feridas pelo plectro estremeciam-me
como se ouvisse a
melodia das espadas nos tendões do colo inimigo.
Ao retirar o seu
manto, descobriu o talhe, florescente ramo
de salgueiro,
como se abre o botão para mostrar a flor.
Mohâmede Ibne
Abade Almutâmide - Rei Poeta
Beja (1040-1095)
Nenhum comentário:
Postar um comentário