28 de julho de 2013

ALQUIMIA DO VERBO


   Para mim. A história das minhas loucu-
ras.
   Há muito me gabava de possuir todas
as paisagens possíveis, e julgava irrisórias
as celebridades da pintura e da poesia mo-
derna.
    Gostava das pinturas idiotas, em por-
tas,  decorações, telas circenses, placas,
iluminuras populares; a literatura fora de
moda, o latim da igreja, livros eróticos sem
ortografia, romances de nossos antepassa-
dos, contos de fadas, pequenos livros in-
fantis, velhas óperas, estribilhos ingênuos,
rítmos ingênuos.
     Sonhava  com as cruzadas, viagens de
descobertas de que não existem relatos, re-
públicas sem histórias, guerras de religião
esmagadas, revoluções de costumes, des-
locamentos de raças e continentes: acredi-
tava em todas as magias.
     Inventava a cor das vogais! - A  negro
E branco, I vermelho, O azul, U ver-
de. Regulava a forma e o movimento de
cada consoante, e , com ritmos institivos,
me vangloriava de  ter inventado um verbo
poético acessível, um dia ou outro, a todos
os sentidos. Era comigo traduzí-los.
Foi primeiro um experimento. Escre-
via silêncios, noites, anotava o inexprimível.
Fixava vertigens.

Rimbaud (Franca)

Tradução de Paulo Hecker Filho

Um comentário:

cirandeira disse...

Ah, Rimbaud! Captava tão bem, e tão à frente de nós todos, que ainda hoje sua escrita é atual!

Kandandu, Nami