Anoitecera. Eu falava de
Morandi como exemplo de uma arte poética que, apesar da desmaterialização dos
objectos e da aura de silêncio que os imobilizava na sua pureza, não se
desvincula nunca da realidade mais comum e fremente, quando alguém me
interrompeu: – Eu conheci-o, era intratável,
vivia em Bolonha com duas irmãs, quase só saía de casa para ir às
putas. – Esta bem, volvi eu, se ele precisava disso para depois pintar como
Vermeer e Chardin, abençoadas sejam todas as putas do céu e da terra.
Ámem.
Eugénio de Andrade
(Portugal)
In Vertentes do Olhar
Nenhum comentário:
Postar um comentário