Não é pra me gabar, mas
todas as tardes um garrincha vem cantar pra mim. Não é metáfora. É perto da
janela do meu quarto e não consigo vê-lo. Já procurei várias vezes mas não sei
onde está.
Quando vou dormir, o ritmo
é dos grilos, e se tem chuva os sapos vêm dar o tom mais grave.
é lindo, isso é
consolo, isso é religião.
Ando muito povoada, carente
de silêncio. Acho que era disso que eu precisava quando pegava uma bacia de
alumínio, colocava dentro as tampas de ferro das bocas do fogão e sacudia um
som infernal, ferros no alumínio. Não tinha pensamento que ficasse!
Hoje nem isso dá pra fazer,
as bacias são de plástico e a tampa do fogão é presa.
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Apareceu um homem do mar
remando num barco
improvisado
(estava em um cesto de
balão sem envelope
um balão marinho voando no
mar)
O homem marinho me chamou
eu respondi
(por mais de uma vez me
perdi e
ele me levou delicadamente
pela cintura)
Quando vi
eu estava em pé nos ombros
do homem do mar
(a água ventando meu
cabelo)
Descemos milhas submarinas
até que a criatura marinha
nua, linda,
fincou seus pés no aluvião.
Martha Galrão
(Brasil)
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