19 de julho de 2013

POEMA DE CESÁRIO VERDE
















De Tarde

Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

                                        Cesário Verde (Portugal) 

2 comentários:

António Eduardo Lico disse...

Sempre um prazer ler esta poesia de Cesário Verde.
Abraço.

NAMIBIANO FERREIRA disse...

Uma poética do Sec. XIX, já com um perfume de modernidade. Sem dúvida sempre muito agradável