Poema de Carlos de Oliveira, dito por Maria de Jesus Barroso. A terceira parte deste poema é uma conhecida cancao interpretada pelos Trovante.
XÁCARA DAS BRUXAS DANÇANDO
I
Era outrora um
conde
que fez um país,
com sangue de
moiro,
com laranjas de
oiro,
como a sorte
quis.
Há bruxas que
dançam
quando a noite
dança,
são unhas de nojo
são bicos de
tojo,
no tambor da
esperança.
Ventos sem
destino
que dizeis às
ramas?
Desgraça bramindo
é a nós que
chamas.
No país que
outrora
um conde teceu,
as laranjas de
oiro
são bruxas de
agoiro
e fúrias do céu.
Anda o sol de
costas
e as bruxas
dançando
e os ventos do
norte
sobre nós
espalhando
as tranças de
morte.
As estrelas
mortas
apagam-se aos
molhos:
vem, lume
perdido,
florir-nos nos
olhos.
II
Ama, estás
ouvindo
a história que
vou contando?
Ó ama pátria
dormindo
desde quando?
Desde tempos e
memórias,
desde lágrimas e
histórias,
desde raivas e
glórias,
agora te estou
chorando
e tu dormindo
até quando?
As bruxas andam
lá fora
e eu chorando
versos do país de
outrora.
Dançam bruxas a
ganir
de mãos dadas com
o vento.
Ama, acorda;
sopra o lume;
e não me deixes
dormir
na noite do
pensamento.
III
Ó castelos
moiros,
armas e tesoiros
quem vos
escondeu?
Ó laranjas de
oiro,
que ventos de
agoiro
vos apodreceu?
Há choros,
ganidos,
à luz da caverna
onde as bruxas
moram,
onde as bruxas
dançam
quando os mochos
amam
e as pedras
choram
Caravelas,
caravelas
mortas sob as
estrelas
como candeias sem
luz
E os padres da
inquisição
fazendo dos
vossos mastros
os braços da
nossa cruz
As bruxas dançam
de roda
entre o visco dos
morcegos,
dançam de roda
raspando
as unhas podres
de tojo
na noite morta do
povo
como num tambor
de rojo.
IV
E o tempo
murchando
a luz de idos
loiros.
Ama, até quando
estaremos
chorando
os castelos
moiros?
Lá vão naus da
Índia,
lá se vão
tesoiros.
E as bruxas
dançando
e os ventos
secando
as laranjas de
oiro.
Ama até quando?
Na noite das
bruxas
o lume no fim
e o vento
ganindo.
Amas estás
ouvindo?
O lume no fim
e os homens
dispersos.
Ama, tens frio;
cinge-te a mim
e aquece-te ao
lume
queimando os meus
versos.
Carlos de
Oliveira (Portugal)
Um comentário:
Um grande poeta Carlos Oliveira, e que eu muito aprecio.
Abraço.
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