Conheci tipos que
viveram muito. Estão
mortos, quase
todos: de suicídio, de cansaço.
de álcool, da
obrigação de viver
que os consumia.
Que ficou das suas vidas? Que
mulheres os
lembram com a nostalgia
de um abraço? Que
amigos falam ainda, por vezes,
para o lado, como
se eles estivessem à sua
beira?
No entanto,
invejo-os. Acompanhei-os
em noites de
bares e insónia até ao fundo
da madrugada;
despejei o fundo dos seus copos,
onde só os restos
de vinho manchavam
o vidro; respirei
o fumo dessas salas onde as suas
vozes se
amontoavam como cadeiras num fim
de festa. Vi-os
partir, um a um, na secura
das despedidas.
E ouvi os
queixumes dessas a quem
roubaram a vida.
Recolhi as suas palavras em versos
feitos de lágrimas
e silêncios. Encostei-me
à palidez dos
seus rostos, perguntando por eles - os
amantes luminosos
da noite. O sol limpava-lhes
as olheiras; uma
saudade marítima caía-lhes
dos ombros nus.
Amei-as sem nada lhes dizer - nem do amor,
nem do destino desses
que elas amaram.
Conheci tipos que
viveram muito - os
que nunca
souberam nada da própria vida.
Nuno Júdice
(Portugal)
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