Um poeta português muito esquecido, procura-se quem se interessar em conhecê-lo...
ODE À
MENTIRA
Crueldades,
prisões, perseguições, injustiças,
como sereis
cruéis, como sereis injustas?
Quem torturais,
quem perseguis,
quem esmagais
vilmente em ferros que inventais,
apenas sendo
vosso gemeria as dores
que ansiosamente
ao vosso medo lembram
e ao vosso
coração cardíaco constrangem.
Quem de vós
morre, quem de por vós a vida
lhe vai sendo
sugada a cada canto
dos gestos e
palavras, nas esquinas
das ruas e dos
montes e dos mares
da terra que
marcais, matriculais, comprais,
vendeis,
hipotecais, regais a sangue,
esses e os
outros, que, de olhar à escuta
e de sorriso
amargurado à beira de saber-vos,
vos contemplam
como coisas óbvias,
fatais a vós que
não a quem matais,
esses e os outros
todos... - como sereis cruéis,
como sereis
injustas, como sereis tão falsas?
Ferocidade,
falsidade, injúria
são tudo quanto
tendes, porque ainda é nosso
o coração que
apavorado em vós soluça
a raiva ansiosa
de esmagar as pedras
dessa encosta
abrupta que desceis.
Ao fundo, a vida
vos espera. Descereis ao fundo.
Hoje, amanhã, há
séculos, daqui a séculos?
Descereis, descereis sempre, descereis.
Jorge de Sena (Portugal)
Biografia
Jorge Cândido de Sena nasceu em 2 de Novembro de 1919 em Lisboa. Terminou em 1936 o seu curso de liceu, ano em que se inscreveu nos preparatórios para a escola naval. Formou-se em engenharia civil na faculdade de engenharia do Porto.
Até 1959 foi funcionário da Junta Autónoma de Estradas, data em que se exila no Brasil, onde conclui o doutoramento em letras e rege as cadeiras de teoria da literatura e literatura portuguesa na Universidade de Araquara.
A partir de 1965 passa a viver nos E.U.A. acompanhado da esposa Mécia de Sena de quem teve 9 filhos, sendo professor catedrático na Universidade de Winsconsin e, posteriormente na Universidade da Califórnia - Sta. Bárbara, onde dirigiu o departamento de literatura portuguesa e espanhola.
Faleceu em 4 de Junho de 1978.
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