Escuta, escuta:
tenho ainda
uma coisa a
dizer.
Não é importante,
eu sei, não vai
salvar o mundo,
não mudará
a vida de ninguém
- mas quem
é hoje capaz de
salvar o mundo
ou apenas mudar o
sentido
da vida de
alguém?
Escuta-me, não te
demoro.
É coisa pouca,
como a chuvinha
que vem vindo
devagar.
São três, quatro
palavras, pouco
mais. Palavras
que te quero confiar,
para que não se
extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que
muito amei,
que talvez ame
ainda.
Elas são a casa,
o sal da língua.
Foi para ti que
criei as rosas
Foi para ti que
criei as rosas.
Foi para ti que
lhes dei perfume.
Para ti rasguei
ribeiros
e dei às romãs a
cor do lume.
Foi para ti que
pus no céu a lua
e o verde mais
verde nos pinhais.
Foi para ti que
deitei no chão
um corpo aberto
como os animais.
Eugénio de
Andrade (Portugal)
Um comentário:
A grande poesia de Eugénio de Andrade.
Abraço.
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