— O meu nome é
Severino,
como não tenho
outro de pia.
Como há muitos
Severinos,
que é santo de
romaria,
deram então de me
chamar
Severino de
Maria;
como há muitos
Severinos
com mães chamadas
Maria,
fiquei sendo o da
Maria
do finado
Zacarias.
Mas isso ainda
diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um
coronel
que se chamou
Zacarias
e que foi o mais
antigo
senhor desta
sesmaria.
Como então dizer
quem fala
ora a Vossas
Senhorias?
Vejamos: é o
Severino
da Maria do
Zacarias,
lá da serra da
Costela,
limites da
Paraíba.
Mas isso ainda
diz pouco:
se ao menos mais
cinco havia
com nome de
Severino
filhos de tantas
Marias
mulheres de
outros tantos,
já finados,
Zacarias,
vivendo na mesma
serra
magra e ossuda em
que eu vivia.
Somos muitos
Severinos
iguais em tudo na
vida:
na mesma cabeça
grande
que a custo é que
se equilibra,
no mesmo ventre
crescido
sobre as mesmas
pernas finas,
e iguais também
porque o sangue
que usamos tem
pouca tinta.
E se somos
Severinos
iguais em tudo na
vida,
morremos de morte
igual,
mesma morte
severina:
que é a morte de
que se morre
de velhice antes
dos trinta,
de emboscada
antes dos vinte,
de fome um pouco
por dia
(de fraqueza e de
doença
é que a morte
Severina
ataca em qualquer
idade,
e até gente não
nascida).
Somos muitos
Severinos
iguais em tudo e
na sina:
a de abrandar
estas pedras
suando-se muito
em cima,
a de tentar
despertar
terra sempre mais
extinta,
a de querer
arrancar
algum roçado da
cinza.
João Cabral de
Melo Neto (Brasil)
2 comentários:
A concisão e o rigor de Melo Neto.
Abraço
Um dos meus favoritos, na outra margem do mar.
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