Foto de Maria José Amorim
Quem a tem...
Não hei-de morrer
sem saber
Qual a cor da
liberdade.
Eu não posso
senão ser
Desta terra em
que nasci.
Embora ao mundo
pertença
E sempre a
verdade vença,
Qual será ser
livre aqui,
Não hei-de morrer
sem saber.
Trocaram tudo em
maldade,
É quase um crime
viver.
Mas embora
escondam tudo
E me queiram cego
e mudo,
Não hei-de morrer
sem saber
Qual a cor da
liberdade.
Jorge de Sena,
Portugal
No País dos
Sacanas
Que adianta
dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são,
mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão
contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo
melhor do que uma sacanice
para poder
funcionar fraternalmente
a humidade de
próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das
rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se
dividem e afinal se irmanam.
Dizer-se que é de
heróis e santos o país,
a ver se se
convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda
a gente sabe que só asnos,
ingénuos e
sacaneados é que foram disso?
Não, o melhor
seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que
logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país
dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a
dignidade, a independência, a
justiça, a
bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que
não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os
mais não são capazes de atingir.
No país dos
sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a
gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então
nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser,
eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no
teatro, e o gajo morreu na mesma.
Jorge de Sena, Portugal
2 comentários:
Belas poesias do Jorge dse Sena, além do mais um vulto maior da Cultura Portuguesa.
Abraço João.
Caro António,
Jorge de Sena é um poeta de muita categoria.
Postar um comentário