28 de setembro de 2008

VERGONHA DA HUMANIDADE

Supondo verdadeira a ideia, na qual hoje muitos crêem como se fosse «a verdade», de que o sentido de toda a cultura é precisamente fazer da fera-«homem» um animal manso e civilizado, um animal doméstico, então seria indubitavelmente necessário considerar que os verdadeiros instrumentos da cultura teriam sido todos aqueles instintos de reacção e ressentimento que serviram afinal para humilhar e derrotar as aristocracias e os respectivos ideais... O que, aliás, não significaria ainda que os portadores desses instrumentos fossem simultaneamente os representantes da cultura... O contrário não me parece apenas ser mais provável... Não! O contrário é hoje evidente! Os portadores dos instintos de rebaixamento e de desforra, os descendentes de todos os escravos europeus e não europeus, em especial as populações pré-arianas, esses representam o recuo da humanidade! Os ditos «instrumentos da cultura» são uma vergonha da humanidade e acabam por se tornar um motivo de desconfiança, um argumento contra a «cultura». Pode haver boas razões para se continuar a temer a besta loira que habita no fundo de todas as raças aristocráticas e para se tomarem precauções... Mas haverá quem não prefira cem vezes mais temer e ao mesmo tempo poder admirar, do que não temer e ao mesmo tempo não poder ver-se livre do espectáculo nauseabundo imposto pelos falhados, pelos diminuídos, pelos atrofiados, pelos envenenados? E não será esta a nossa fatalidade? que coisa provoca esta nossa aversão pelo «homem»?... Porque, disso não há dúvida, o homem tornou-se para nós motivo de sofrimento... Não é o temor. Pelo contrário, é o facto de já nada termos a temer no homem, o facto de o verme-«homem» fervilhar à nossa frente, com o maior destaque, o facto de o «homem manso», irremediavelmente medíocre e insuportável, já ter aprendido a achar que é ele o «homem superior», o objectivo, a coroação e o sentido da história...


in Para a Genealogia da Moral, Friedrich Nietzsche

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