30 de setembro de 2008

POESIA DE JOÃO TALA



BIOGRAFIA:
João Tala nasceu em Malanje a 19 de Dezembro de 1959. É médico exercendo a profissão como interno em alguns hospitais de Luanda. Iniciou a sua actividade literária na cidade do Huambo, onde cumpria o serviço militar e foi co-fundador da Brigada Jovem de Literatura. Apesar de ter frequentado círculos literários daquela cidade, de que despontaram ainda na década de 80 importantes nomes da novíssima poesia angolana como João Maimona, o seu primeiro livro de poesia sai a público apenas em 1997. Arrebatou o prémio Primeiro Livro da União dos Escritores em 1997 e o promeiro lugar dos Jogos Florais do Caxinde em 1999.Parecendo justificar o respeito que nutre pela poesia, o seu livro de estreia é, apesar dos cerca de 15 poemas, uma auspiciosa contribuição para a renovação e diversidade do discurso poético angolano. O segundo livro voltou a merecer um acolhimento encomiástico da parte de José Luís Mendonça, outro expoente da sua geração, que o considera como uma vocação poética a irromper no universo das letras angolanas com soberania inerente aos grandes criadores.
BIBLIOGRAFIA:
A Forma dos Desejos (1997),
O Gasto da Semente (2000),
A Forma dos Desejos II (2003)
A Vitória é uma Ilusão de Filósofos e de Loucos (2005),
Os Dias e os Tumultos (2004) contos.

É membro da União dos Escritores Angolanos.
POEMAS DE JOAO TALA:TONTURA
Ainda apagam pálpebras de volta à tontura
ainda o sentimento da nossa longa história
a ruína vai da notícia à revolução

palavras mortas nunca mais preenchidas
os rios demorados no sintoma dos países
e tudo passa e o poema indaga
o dia que acontece como uma ruína.


OBITUÁRIO
Onde ouvidos repetem pequenas ruínas
sobra o revólver sobre dias túmidos
para decretar morte é como ninguém
para aumentar áfricas laboratoriais e
o latifúndio;

depois dá um tiro na cabeça da história
tal como tropeça no meu palavrão
sem nada para acrescentar à morte
sem nada para contar à vida
sem ser nunca o nome da multidão.




PSIQUIATRIA (I)

Reverbero de minha esquizofrenia
dias de mim cuidados
atravessei o Hospital Psiquiátrico
ninguém mais mora lá;
os doutores partiram quando o tempo
[envelheceu


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e o princípio pariu o fim – uma estrada
onde passo com o livro descuidado,
sem brio, um tratado de loucura.
É o tempo abordado e paginado
com o sangue na caneta;
o tema das cicatrizes que não foram
[encontradas
porque a enfermeira as escondeu
quando forjava a própria madrugada


Joao Tala (Angola)
(Nota: tela de Eleutério Sanches)

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