Nos compêndios
escolares não se falava da pequena ilha
solitária e
perdida nos mares do Sul.
Não passavam por
lá os barcos dos brancos
e o povo seguia a
sua própria lei
que no entanto
não estava escrita em livro algum.
Homens e mulheres
viviam nus e amavam-se sem complicações
e comiam peixes
que pescavam em canoas feitas com troncos de árvores
e carne de
animais caçados com setas certeiras.
Atletas e
guerreiros dançavam ao som de búzios e tambores
e as bailadeiras
ondeavam contorcidos ritmos lentos
na toada triste
de instrumentos de uma só corda.
E tinham seus
deuses, seus santos, seus sacerdotes, seus feiticeiros,
e moravam em
cubatas cobertas com palmas das palmeiras.
Mas do outro lado
da terra
um dia
senhores de cara
grave assentaram-se à volta de uma mesa com mapas em frente,
falando de guerras,
de bases para aviões,
de pontos estratégicos...
Então veio à
baila a ilha solitária perdida nos mares do Sul...
Semanas depois um
barco de ferro chegou e fundeou
nas águas
tranquilas da baía...
E um escaler veio
para terra com homens loiros vestidos de branco,
trazendo, entre
outras coisas,
uma bandeira para a primeira
afirmação imperial,
um chicote para o primeiro castigo,
um barril de pólvora para o
primeiro massacre
e um outro de álcool para o
primeiro comércio!
Jorge Barbosa
(Cabo Verde)
2 comentários:
Bela e dorida poesia.
Abraço e bom início de fim de semana.
Esse poema-denúncia fala por todos os povos colonizados. Esse modus-operandi foi o mesmo empregado aqui no Brasil!
Tomei a liberdade de publicá-lo em
http://minimoajuste.blogspot.com.br
Kadandu
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