4 de março de 2014

HERÁCLITO AO PÉ DO LAGO




Perto das águas verdes se juntam as veredas.
Ha silêncios por aí, pesados e abandonados pelo homem.
Cala-te, cão, que estás provando o vento com as narinas, cala-te.
Não despeças as recordações que vêm
chorando enterrar o rosto nas suas cinzas.

Apoiado nas cavacas estou adivinhando o meu destino
na palma duma folha outonal.
Tempo, quando pretendes tomar o caminho mais curto,
por onde vais?

Os meus passos ressoam na sombra
como se fossem frutos apodrecidos,
caidos duma árvore invisível.
Oh, tão rouca se tornou por causa de velhice a voz do manancial!

Todo o erguer da mão
é só uma dúvida de mais.
As dores reclamam irem
para o segredo fundo do torrão.

Espinhas estou atirando da beira ao lago,
com elas, em círculos, me estou desfazendo.


Lucian Blaga (Roménia)

(Tradução de Micaela Ghitescu)

Dedico esta postagem a Georgiana Bãrbulescu.