“De cantigas e
saudades/Vive esta linda Lisboa!” – é assim que diz, no seu Fado das
Tamanquinhas, Amália, que, no dia 1 de Maio de 2000, me fez tomar uma decisão
que haveria de mudar a minha vida.
Numa manhã de
Outubro de 1999, fiquei a saber, através da Rádio Bucareste, que morrera Amália
Rodrigues, a „rainha do fado”, que eu conhecia desde os meus 15 anos; dois dias
depois, num domingo à noite, vi, no canal de televisão Muzzik, o documentário
biográfico „Uma Estranha Forma de Vida”, transmitido em homenagem a esta
artista, sobre a qual os portugueses dizem que „tinha um acordo com os anjos
cantadores que vivem em segredo nas igrejas de Lisboa”; alguns meses mais
tarde, a 1 de Maio de 2000, vi, também no canal Muzzik, um resumo do concerto
que Amália deu por ocasião da comemoração dos seus 50 anos de carreira
artística.
Foi então que
decidi aprender a Língua portuguesa, para entender as letras das suas músicas e
as suas palavras.
E a decisão
transformou-se numa paixão que me levava cada vez para mais perto de Portugal e
da sua cultura. Descobri um povo sensível, profundo e cheio de lirismo.
Descobri o fado, esse espelho da alma portuguesa – uma alma que sabe amar
profundamente e sofrer ainda mais profundamente; uma alma que é namorada do
mar, embora este lhe tenha roubado muitas vezes os seus queridos; uma alma
apaixonada pela terra lusitana, sofrendo de saudades dela sempre que está
longe.
Descobri uma
História secular convulsiva, ao longo da qual os portugueses conservaram
intacta a sua verdade nacional: uma terra banhada pelo mar, salpicada de montes
e campos, rios e lagos, vestígios históricos e tesouros artísticos.
E descobri Luís
de Camões, Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Afonso Lopes Vieira, Pedro Homem de
Mello, José Ramos Coelho ...
Entretanto, a
paixão foi crescendo e dois anos depois transportou-me às terras muito
sonhadas.
Ainda no avião,
reconheci, sem que nunca a tivesse visto, a terra lusitana. A emoção
carregou-me os olhos de lágrimas.
Logo ao sair do
aeroporto em Lisboa, receberam-me as cevadilhas, com as suas copas altas e
ricas, cheias de flores, brancas, cor-de-rosa, vermelhas... Receber-me-iam a
cada quilómetro de autoestrada, em cada jardim e em cada quintal. E fiquei a
pensar que, tal como a Holanda tem como sobrenome “o país das tulipas”,
Portugal podia ser chamado ”o país das cevadilhas”.
Uma vez chegada a
Lisboa, queria abraçá-la toda de uma vez, sem saber por onde começar...
Afinal, comecei
(coincidência?) pela Casa Museu „Amália Rodrigues”, a casa onde vivera aquela
que desencadeara todo este turbilhão que haveria de me mudar a vida. A emoção
foi imensa. Senti muito intensamente a presença daquela personalidade
deslumbrante que se autonomeava „estranha forma de vida”, que cativara e
continua a cativar gente de todas as idades e de todos os cantos do mundo,
mesmo não entendendo o português... Definitivamente, a linguagem da música e da
alma é universal.
Continuei com os
encantadores bairros antigos da Lisboa das sete colinas, com os seus elétricos
característicos, quase um símbolo da cidade; com o cheirinho a sardinha assada,
no Verão, e a castanhas em cartuxos de jornal, no Inverno; com o encanto
envolvente do fado cantado sem microfone, à luz das velas, tecendo sonhos de
amores românticos, muitas vezes terminados com lágrimas e sofrimento.
Conheci, depois,
ao vivo, tudo o que conhecera através dos documentários que seguira com avidez
em diversos canais de televisão: a Natureza, o Oceano Atlântico, os vestígios
da História tumultuosa…
Na verdade,
Portugal é um palmo de terra abençoada por Deus e com um povo quente e
acolhedor; Homens que, como diz o fado „Uma Casa Portuguesa”, se lhes bate
alguém à porta, convidam-no logo a sentar-se à mesa com eles; gente que me fez
sentir, em Portugal, EM CASA.
Mais tarde, em
2005, Lisboa tornou-se a minha segunda casa e Portugal, a minha segunda pátria.
E eu deixei de ser a professora de Química que tinha sido durante 29 anos e
tornei-me uma pequena ponte entre os dois povos, entre as duas culturas.
Georgiana
Bãrbulescu (Roménia)