Tenho saudades do tempo
Em que corria descalço
Pelas areias do rio;
Comigo, os meus companheiros
Também descalços, correndo,
A correr ao desafio.
Tenho saudades do Largo
Onde estava a minha casa,
Com mulembas altaneiras;
Tenho saudades das sombras
Com que os seus ramos cobriam
Sempre as nossas brincadeiras.
(- Quem tem o canhé?
És tu!
Pescoço de ganso, monco de peru…
Quem tem o canhe?
Sou eu!
Diabo, diabo, vais p’ra o céu…)
Tenho saudades, meu Deus,
Tanta, tantas que nem sei
Como me cabem aqui;
Tenho saudades, até, Das saudades que senti.
II
No quintal da minha casa
Vestido de prata nas noites de luar,
As sombras das mangueiras
Eram rendas espalhadas
Pelo chão.
E as horas do serão
Corriam apressadas.
As moças a namorar,
As crianças a brincar
Rindo,
Cantando,
Chorando
Dum trambulhão;
As velhas, quase em surdina,
Contavam histórias do mato,
Do tempo da escravatura:
-Um branco, um coelho e um gato,
Outros bichos à mistura,
Bichos sabidos que falavam.
Depois, quando a lua descia
P’ra se esconder no Sombreiro,
Todos, todos se juntavam
Em redor da minha avó.
Havia quifufutila,
Havia pé de moleque…
…E a lua desaparecia
No Casseque!...
III
Onde está o meu quintal
Vestido de prata nas noites de luar,
Com rendas de sombras espalhadas pelo chão?
Onde estão esses meninos
Que riam chorando
Dalgum trambulhão?
A vida os levou p’ra longe de mim!
Agora, de tudo isso,
Só me ficou o feitiço
Desta saudade sem fim.
E quando a lua se esconde
No Sombreiro
Fico sozinho na praia
À laia
Não sei de quê,
Olhando o mar,
Carpindo saudades,
A olhar
A olhar…
Aires Almeida Santos (Angola)
Em que corria descalço
Pelas areias do rio;
Comigo, os meus companheiros
Também descalços, correndo,
A correr ao desafio.
Tenho saudades do Largo
Onde estava a minha casa,
Com mulembas altaneiras;
Tenho saudades das sombras
Com que os seus ramos cobriam
Sempre as nossas brincadeiras.
(- Quem tem o canhé?
És tu!
Pescoço de ganso, monco de peru…
Quem tem o canhe?
Sou eu!
Diabo, diabo, vais p’ra o céu…)
Tenho saudades, meu Deus,
Tanta, tantas que nem sei
Como me cabem aqui;
Tenho saudades, até, Das saudades que senti.
II
No quintal da minha casa
Vestido de prata nas noites de luar,
As sombras das mangueiras
Eram rendas espalhadas
Pelo chão.
E as horas do serão
Corriam apressadas.
As moças a namorar,
As crianças a brincar
Rindo,
Cantando,
Chorando
Dum trambulhão;
As velhas, quase em surdina,
Contavam histórias do mato,
Do tempo da escravatura:
-Um branco, um coelho e um gato,
Outros bichos à mistura,
Bichos sabidos que falavam.
Depois, quando a lua descia
P’ra se esconder no Sombreiro,
Todos, todos se juntavam
Em redor da minha avó.
Havia quifufutila,
Havia pé de moleque…
…E a lua desaparecia
No Casseque!...
III
Onde está o meu quintal
Vestido de prata nas noites de luar,
Com rendas de sombras espalhadas pelo chão?
Onde estão esses meninos
Que riam chorando
Dalgum trambulhão?
A vida os levou p’ra longe de mim!
Agora, de tudo isso,
Só me ficou o feitiço
Desta saudade sem fim.
E quando a lua se esconde
No Sombreiro
Fico sozinho na praia
À laia
Não sei de quê,
Olhando o mar,
Carpindo saudades,
A olhar
A olhar…
Aires Almeida Santos (Angola)
2 comentários:
O Aires de Almeida dos Santos é o meu poeta angolano favorito n.1!! Gosto da sua pena suave e do jeito de falar das coisas miúdas! Gosto da sua sensibilidade poética! Thanks amigo Namibiano.
Décio Bettencourt Mateus
Caro Amigo,
Sem duvida Aires de Almeida Santos e' um grande poeta, descobri-o com 10 anos e' uma continua fonte de inspiracao e o meu mestre. E' um dos grandes poetas da Lusofonia.
Obrigado pelas tuas visitas.
Kandandu, Namibiano
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