29 de maio de 2007

Sobre a colina de Calamboloca



Eram contratados, eram homens mortos
duas horas antes da morte os matar,
sobre a colina de Calamboloca
Subiam a ladeira devagar,
passo atrás de passo,
sem sonhos nem vontades.
Com eles apenas a obstinação do silêncio.
E nós a contemplar
e nós a ver passar
os sete mortos, sem expressão na face,
naquela tarde rubra, tarde fria,
sobre a colina de Calamboloca
Não sei como contar-te irmão, aquela tarde
e a nossa paixão de contemplar
os jovens que trepavam a ladeira.
Não sei o que dizer-te irmão, daquelas faces
olhando para o tempo sem pensar
sem descanso, nem dor, nem conteúdo,
obstinado em silenciar...
E nós a ver
fazendo tudo para não olhar.
E nós a reparar que eram homens mortos
duas horas antes da morte os matar
sobre a colina de Calamboloca.
Uniram-se em forma de sete irmãos
e deram-se as mãos,
e gastaram a vida até ao fim
a silenciar...
E de mãos dadas caíram na terra
sobre a colina de Calamboloca.
Nasceram flores de pétalas vermelhas
entre as raízes da grande mafumeira.
Agora pesa um silêncio grosso
como o silêncio de coágulos de sangue
sobre a colina de Calamboloca...
Apenas o lesto animal das moitas
trauteia uma canção inesquecível
e a brisa roladora de mistérios
murmura um queixume mais profundo
sobre a colina de Calamboloca...


Henrique Abranches (Angola)

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