Sobre a obra, Ana de Sá, Especialista em Línguas Africanas, teceu as seguintes considerações: «A palavra faz e desfaz, constrói o abandono, desfrutando, pelo seu som, o silêncio; a voz cede o seu lugar cativo aos outros sentidos físicos que se compõem em poesia. A recorrente metáfora poética do tecto surge, neste sentido, como expressão do desejo de toque do inatingível, do alto, do máximo organizador ao qual se acede precisamente pela vogal, pelo verbo com poder de nomear e de apropriar na subjectividade o visível, o perceptível e o imaginável. O espelho é filtrado pela visão na sedução da imagem com a obsessão pela palavra. As mãos, os dedos, a boca que sentem o barro, o ouro e a terra, o húmus fértil, tal como a dança que envolve toda a percepção sensorial, comunicam com as artes, as da palavra e as do corpo». Inocência Mata, Professora Doutora em Línguas Africanas, diz que «Este livro o poeta desfiando, pacientemente qual cágado, aquele que «passou pela fogueira/como quem inicia o passeio» do primeiro ao último poema, os lugares esconsos do «relato de nação», feito de dores, de heróis em discursos vazios, de fístulas (as feridas, mas também os canais), desde a Baixa de Kassanje, lugar simbólico de gestação nacionalista e palco dos nefandos acontecimentos que tornaram mais visíveis a sanha colonialista, e do rio Kwanza, «que levou para o mar os corpos dos homens que foram/violados», até chegar à Kanjala à luz, que traz uma nova possibilidade de recomeço: Kanjala com o seu tempo perfeito depois De muitas fogueiras. Um milheiral levanta a terra numa mesa Acesa que ocupa o horizonte. Este livro de Botelho de Vasconcelos desinstala verdades inquestionáveis, desoculta presunções consensualistas, perturbando as consciências mais transparecentes. Fá-lo rasteando o mapa da sua afectividade (familiar, social, política e ideológica) e convidando a que a Pátria revele os lugares dos seus silêncios. No mais, este livro traz à cena literária angolana uma pedra: uma nova forma de procedimento poético, baralhando os esquemas estanques das categorias literárias, causando estranhamento. Que é, como se sabe desde o Formalismo russo, uma das funções construtivas do literário». E em último excerto analitico, Cármen Lúcia Tindó Secco, Professora Doutora da UFRJ Brasil, escreveu o seguinte comentário: «A dança também ilumina e movimenta o eu do poema que se quer lúcido, crítico da vida, do espectáculo da modernidade, da teia trágica de inúmeras guerras e desenlaces. É evidente a amarga lucidez do poeta nos seguintes versos: «Eu tenho a minha desilusão diante da cidade, cuja verdade é um painel de publicidade». (Tábua pág. 64) Memória e esquecimento dialogam por entre os fios da poesia de Adriano Botelho de Vasconcelos. O que lembra e para quê? O que omite e por quê?».
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