27 de janeiro de 2015

70 ANOS DA LIBERTAÇÃO DE AUSCHWITZ-BIRKENAU 1945 - 2015




“ Primeiro vieram…” é um poema atribuído ao Pastor Martin Niemöller (1892–1984) sobre a inactividade dos intelectuais alemães depois da subida ao poder dos Nazis e da perseguição que se seguiu a determinados grupos que, uns após outros, foram alvo das suas actividades de limpeza: Comunistas, Judeus, Social-Democratas, Sindicalistas, Ciganos, Homossexuais, Testemunhas de Jeová e inclusivamente Católicos mas também outras muitas vozes incómodas ao regime, como foi o caso do Pastor alemão Martin Niemöller.

Inicialmente apoiante de Hitler, Niemöller veio, por volta de 1934, a opor-se totalmente ao Nazismo e graças às sua boas relações de amizade com influentes homens de negócios, conseguiu ser salvo da prisão até 1937, altura em que foi encarcerado, eventualmente, nos campos de concentração de Sachsenhausen e Dachau. O Pastor sobreviveu e depois da Segunda Guerra Mundial, tornou-se na principal voz de penitência e reconciliação do povo alemão. O seu poema é bastante conhecido e frequentemente citado tendo-se tornado num modelo popular para descrever os perigos de uma apatia política que, começando muitas vezes, com um alvo específico de medo e ódio, assume rapidamente proporções assustadoras e completamente fora de controlo.

O poema tem apresentado diversas variantes ao longo dos tempos. Apresento-vos uma versão que traduzi do inglês. Contudo, existe alguma controvérsia sobre a autoria do poema, para mim, no entanto é a importancia da sua mensagem.


PRIMEIRO VIERAM...

Primeiro vieram prender os judeus
E eu não levantei minha voz
Porque não era judeu.
Depois vieram prender os comunistas
E eu não levantei minha voz
Porque não era comunista.
Depois vieram prender os homossexuais
E eu não levantei minha voz
Porque noã era homossexual.
Depois vieram prender os sindicalistas
E eu não levantei minha voz
Porque não era sindicalista.
Depois vieram prender-me
E já não havia mais ninguém
Que levantasse a voz por mim.

Martin Niemoller (Alemanha)

(Tradução do inglês de Namibiano Ferreira)








NÃO TE ESQUEÇAS NUNCA



Não te esqueças nunca de Thasos nem de Egina
O pinhal a coluna a veemência divina
O templo o teatro o rolar de uma pinha
O ar cheirava a mel e a pedra a resina
Na estátua morava tua nudez marinha
Sob o sol azul e a veemência divina


 Não esqueças nunca Treblinka e Hiroshima
O horror o terror a suprema ignomínia



Sophia de Mello Breyner Andresen

26 de janeiro de 2015

ANÉIS DE CINZA


São minhas vozes cantando
para que não cantem eles,
os amordaçados cinzentos do alvorecer,
os vestidos de pássaro desolado na chuva.

Há, na espera,
um murmúrio liláceo rompendo-se.
E há, quando vem o dia,
uma divisão do sol em pequenos sóis negros.
E quando é noite, sempre,
uma tribo de palavras mutiladas
procura abrigo em minha garganta
para que eles não cantem,

os sombrios, os donos do silêncio.


Alejandra Pizarnik (Argentina)

20 de janeiro de 2015

PADRE PORTUGUÊS - JUSTO ENTRE AS NAÇÕES


















O padre português Joaquim Carreira foi vice-reitor e reitor do Colégio Pontifício Português entre 1940 e 1954. Foi nesse período durante a segunda guerra mundial que concedeu abrigo a hebreus. O monsenhor Joaquim Carreira ofereceu abrigo a várias pessoas perseguidas pelos nazis, incluindo três membros da família Cittone. No relatório da atividade do Colégio, o padre Carreira escreveu: “Concedi asilo e hospitalidade no colégio a pessoas que eram perseguidas na base de leis injustas e desumanas”.

Joaquim Carreira passa a ser o quarto português a ser declarado Justo. Além dele, já tinham sido declarados Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português em Bordéus que, desobedecendo às ordens de Salazar, atribuiu vistos a mais de 10 mil judeus que fugiam dos nazis; Carlos Sampayo Garrido, embaixador de Portugal na Hungria, que terá salvo uns mil judeus, atribuindo-lhes documentação portuguesa e colocando-os a salvo em casas da embaixada; e José Brito Mendes, operário português casado com uma francesa e residente em França, e que salvou uma menina, filha de judeus.

O ‘Yad Vashem’, Memorial do Holocausto de Jerusalém, decidiu agora outorgar-lhe o título de ‘Justo entre as Nações’. A declaração do Yad Vashem foi divulgada na quinta-feira dia 11 pelo blogue especializado em temática religiosa ‘Religionline’ num artigo assinado pelo jornalista António Marujo que aqui disponibilizamos:




Postagem retirada do blog: http://amigosdesousamendes.blogspot.co.uk/ 

14 de janeiro de 2015

O ÚLTIMO LIVRO DE GRAÇA PIRES




Eu te baptizo em nome do mar,
disse minha mãe com barcos na voz.
E as ondas enlearam nas águas o meu nome,
abrindo nas fendas do corpo um impulso
salgado que me brandiu o sangue.
Sei agora que há âncoras afogadas
nos meus olhos: nítido eco de todas as demandas.


********

Entre mim e o mar
ainda me causa espanto a madrugada.
Sempre diferente. Sempre idêntica.
Tons de mel, de romã,
de diamante, de milho seco.
Sopro de sal, de sangue, de limos.
E, por trás das dunas,
a respiração dos amantes
sobressaltando as aves.



Graça Pires, in "Espaço livre com barcos" 




Graça Pires (Figueira da Foz, 1946) editou o seu primeiro livro em 1990, depois de ter recebido o Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores com o livro "Poemas". Depois disso publicou mais de uma dúzia de livros de poesia, muitos dos quais premiados. É licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Obras publicadas:

Poemas. Lisboa: Vega, 1990
Outono: lugar frágil. Fânzeres: Junta de Freguesia da Vila de Fânzeres, 1993
Ortografia do olhar. Lisboa: Éter, 1996
Conjugar afectos. Lisboa: Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, 1997
Labirintos. Murça: Câmara Municipal de Murça, 1997
Reino da Lua. Lisboa: Escritor, 2002
Uma certa forma de errância. Vila Nova de Gaia: Ausência, 2003
Quando as estevas entraram no poema. Sintra: Câmara Municipal, 2005
Não sabia que a noite podia incendiar-se nos meus olhos. Ed. autor, 2007
Uma extensa mancha de sonhos. Fafe: Labirinto, 2008
O silêncio: lugar habitado. Fafe: Labirinto, 2009
A incidência da luz. Fafe: Labirinto, 2011
Uma vara de medir o sol. São Paulo: Intermeios, 2012
Poemas escolhidos: 1990-2011. Ed. Autor, 2012
Caderno de significados. Póvoa de Santa Iria: Lua de Marfim, 2013

Prémios recebidos:

Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, com Poemas (1988)
Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, com Labirintos (1993)
Prémio Nacional de Poesia da Vila de Fânzeres, com Outono: lugar frágil (1993)
Prémio Nacional de Poesia 25 de Abril, com Ortografia do olhar (1995)
Grande Prémio Literário do I Ciclo Cultural Bancário do SBSI, com Conjugar afectos (1996)
Concurso Nacional de Poesia Fernão Magalhães Gonçalves, com Labirintos (1997).
Prémio Literário Maria Amália Vaz de Carvalho, com Uma certa forma de errância (2003)
Prémio Literário de Sintra Oliva Guerra, com Quando as estevas entraram no poema (2004)