2 de maio de 2014

FLORES DO MAIS





Devagar escreva
uma primeira letra
escreva
nas imediações construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano de boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais.





Ana Cristina Cesar, Rio de Janeiro (1952-1983) - Poeta e tradutora, pertenceu à " geração mimeógrafo" ou poesia marginal da década de 70.

Um comentário:

Graça Pires disse...

Pedir sempre mais. Mas devagar para não rasgar o "pano da boca" e evitar que a voz enrouqueça no poema...
Muito belo!
Beijo.