Truncadas,
indefinidas, passam
na memória como
filmes mudos
pequenas
histórias de amor
carnal. Os
grandes caudais da noite
sempre desaguam
na tarde salobra
e rasa: Janeiro
amolece a tinta
das paredes, levamos
à rua uma cara
mais fechada, e
depois, na secção
dos congelados,
não sabemos distinguir
o que sentimos
além do frio que represa
as coisas todas:
caminhamos sós
num privado
bosque, convocamos
sombras que foram
perdendo o nome,
sinais que não
transportam já
um sentido
automático de desejo
ou sofrimento. E
contudo, à revelia
das certezas que
não quiséramos ter,
acabamos sempre
por tornar
às mesmas ruas, à
noite insone
e imensa, onde
nos dói descobrir,
na companhia dos
outros,
o quanto nos
reclama a solidão.
Rui Pires Cabral (Portugal)
3 comentários:
Um belo poema de um poeta que não faz parte da minha estante de poesia, mas vou estar atenta a isso.
Obriga pela partilha.
Abraço.
Uma muito recente descoberta, mas estou a gostar.
Abraço.
É sempre bom reler a poesia de Rui Pires Cabral.
Abraço.
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