28 de abril de 2014

DONGOS


Mulher pequena, descobres no sal
dos meus ombros o suave gotejar
dos mitos incinerados na batalha de Ambuíla
com a sua longa sede de dongos submersos.

Dongos? Sim, dongos é o que crias
sobre a pele dos séculos nunca ressequida
de dizer sou povo.

À luz dessa janela vista assim de um ângulo rente ao chão
te amo outra vez olhando a copa dos mamoeiros no auge do verão.

O sol é o mesmo cão rafeiro castanho muito claro com
manchas brancas no pescoço
comendo da sua lata o tutano das promesas.


E eu vi-te desceres do céu. E a terra tremeu.


José Luís Mendonça (Angola) 

Um comentário:

António Eduardo Lico disse...

Uma bela poesia, ao ritmo de um dongo cortando suavemente as águas.
Boa semana.
Abraço.