Não Sei
se Isto é Amor
Não sei se isto é
amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me
fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso,
crê! nunca pensei num lar
Onde fosses
feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca
chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te
escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de
acordar te procurei no leito
Como a esposa
sensual do Cântico dos cânticos.
Se é amar-te não
sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia,
o teu sorriso terno...
Mas sinto-me
sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra
bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a
tarde e sempre sem receio
Da luz
crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro a
olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei
jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é
amor. Será talvez começo...
Eu não sei que
mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o
é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia
talvez de te saber doente.
Camilo Pessanha (Portugal)
in 'Clepsidra'
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