2 de fevereiro de 2010

O JULGAMENTO

Uma maré de leis
Adormecidas em papéis
Uma severidade de martelo
Martela a sala
E o réu treme o cabelo
E se cala!




A toca do Juiz ajuiza
Uma sentença
De laboratório
O réu suspira um murmúrio
De esperança
E o Juiz ajuiza a causa!




Meritíssimo, o réu é inocente
Bradará a voz do céu
Na voz da gente
Da defesa do réu
E o Juiz ajuiza soberano
Montado no trono!




Meritíssimo, elevados
E importantes serviços prestou à nação
O réu. Rogamos absolvição
Bradarão advogados
O martelo da justiça martela
E a sala se cala:




Conduzam o réu à cadeia!
Sentenciará uma (in)justiça
De sentença
A multidão das gentes
Em surdina protesta e vaia:
Inocente, inocente, inocente…




O martelo da (in)justiça pavoneia
E (re)sentencia
Insistente:
Conduzam o réu à cadeia!
Inocente, inocente, inocente…
Clamará a surdina de enfurecida gente


Luanda, 26 de setembro de 2007.

Décio Bettencourt Mateus (Angola)


in "Xé Candongueiro" (cerimónia de lançamento efectuada em Luanda a 21 de Janeiro 2010)

http://mulembeira.blogspot.com/

3 comentários:

DECIO BETTENCOURT MATEUS disse...

Namibiano: Valeu pela postagem e pela picture(!). Confesso um fracozito por este "O Julgamento".

Kandandu.

Art'palavra disse...

Meu estimado Namibiano: caminhar pelo seu blog é aprender sobre as cores, a cultura, o tecido social angolano. Gostei muito do fazer poetico do Decio Bettencourt. Saudações literárias, Graça Grauna

ogfs2008 disse...

Este Julgamento de Décio Mateus, parece ter sido escrito a propósito da situação da (in)Justiça que se vive em Portugal neste momento!... Tudo minado e corrompido, com a "lata" do nosso Procurador-Geral da República a afirmar para quem quis ouvir que, sobre as decisões dele, certas ou erradas, ninguém o pode condenar! Creio que é um ser supremo que, por qualquer desígnio divino (que eu desconhecia), se julga acima da LEI!!!
Abraço