25 de novembro de 2008

GIL VICENTE


BIOGRAFIA:

A biografia de Gil Vicente ainda permanece um mistério em muitos aspectos . Não há provas definitivas que possam estabelecer com segurança sua identidade . Calcula-se que tenha nascido por volta de 1465 .

Há poemas seus no Cancioneiro geral , organizado por Garcia de Resende e publicado em 1516 . A sua carreira teatral , por outro lado , começou de forma inusitada ; por ocasião do nascimento do filho de D.Manuel e de D. Maria de Castela , em 1502 , ele entrou nos aposentos reais e , diante da corte surpresa , declamou um monólogo que tinha escrito em castelhano , à semelhança de Juan del Encina , o Monólogo do vaqueiro ( ou Auto da visitação ) , em que um simples homem do campo expressa sua alegria pelo nascimento do herdeiro , desejando-lhe felicidades . A interpretação entusiasmou a corte , que lhe pediu a repetição na passagem do Natal . Gil Vicente atendeu aos apelos , porém compôs um outro texto , o Auto pastoril castelhano , que também fez sucesso . Tinha início , assim , uma brilhante carreira , que se estenderia por mais de trinta anos . Sua última peça é de 1536 , e depois dessa data não há mais notícias suas . Preparava uma edição de sua obra quando faleceu . Luís Vicente , seu filho , publicou em 1562 a Copilaçam de todalas peças de Gil Vicente , que deixa muito a desejar por ser incompleta e pelas alterações em vários textos .

A sua participação na vida da corte foi intensa e variada , tendo inclusive recebido prêmios de D.João III . Várias peças suas circularam sob forma de cordel e , por ocasião do estabelecimento da Inquisição em Portugal , algumas foram proibidas .

Dessa forma , pouco se conhece de concreto sobre a vida do homem Gil Vicente , mas as numerosas peças que nos restaram bastam para avaliar o talento indiscutível do escritor Gil Vicente , justamente considerado o fundador do teatro português .



Diálogo entre o Parvo e o Diabo extraído do Auto da Barca do Inferno da autoria de Mestre Gil Vicente:



Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais do Inferno:

PARVO
Hou daquesta!

DIABO
Quem é?

PARVO
Eu soo. É esta a naviarra nossa?

DIABO
De quem?

PARVO
Dos tolos.

DIABO
Vossa. Entra!

PARVO
De pulo ou de voo? Hou! Pesar de meu avô! Soma, vim adoecer e fui má-hora morrer, e nela, pera mi só.

DIABO
De que morreste?

PARVO
De quê? Samicas de caganeira.

DIABO
De quê?

PARVO
De caga merdeira! Má rabugem que te dê!

DIABO
Entra! Põe aqui o pé!

PARVO
Houlá! Nom tombe o zambuco!

DIABO
Entra, tolaço eunuco, que se nos vai a maré!

PARVO
Aguardai, aguardai, houlá! E onde havemos nós d'ir ter?

DIABO
Ao porto de Lucifer.

PARVO
Ha-á-a...

DIABO
Ó Inferno! Entra cá!

PARVO
Ò Inferno?... Eramá... Hiu! Hiu! Barca do cornudo. Pêro Vinagre, beiçudo, rachador d'Alverca, huhá! Sapateiro da Candosa! Antrecosto de carrapato! Hiu! Hiu! Caga no sapato, filho da grande aleivosa! Tua mulher é tinhosa e há-de parir um sapo chantado no guardanapo! Neto de cagarrinhosa!

Furta cebolas! Hiu! Hiu! Excomungado nas erguejas! Burrela, cornudo sejas! Toma o pão que te caiu! A mulher que te fugiu per'a Ilha da Madeira! Cornudo atá mangueira, toma o pão que te caiu!

Hiu! Hiu! Lanço-te üa pulha! Dê-dê! Pica nàquela! Hump! Hump! Caga na vela! Hio, cabeça de grulha! Perna de cigarra velha, caganita de coelha, pelourinho da Pampulha! Mija n'agulha, mija n'agulha!



Gil Vicente (Mestre Gil, dramaturgo medieval portugues)

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