10 de outubro de 2007

SONETO DE ANTONIO BOTTO



Se, para possuir o que me é dado,
Tudo perdi e eu própio andei perdido,
Se, para ver o que hoje é realizado,
Cheguei a ser negado e combatido.

Se, para estar agora apaixonado,
Foi necessário andar desiludido,
Alegra-me sentir que fui odiado
Na certeza imortal de ter vencido!

Porque, depois de tantas cicatrizes,
Só se encontra sabor apetecido
Àquilo que nos fez ser infelizes!

E assim cheguei à luz de um pensamento
De que afinal um roseiral florido
Vive de um triste e oculto movimento



António Botto (Portugal)



A biografia de Botto está adornada pelo escândalo e controvérsia e o elogio de contemporâneos como António Machado, Miguel de Unamuno, Camilo Pessanha, Virginia Wolf, Teixeira de Pascoais, Luigi Pirandello, Stephan Zweig e Rudyard Kipling, que o consideram um dos poetas mais brilhantes do seu tempo. James Joyce chamou-lhe " o poeta do amor e da paixão". Porém, e apesar da sua genialidade, este poeta, dramaturgo e contista do século XX, tem sido , injustamente, pouco recordado na literatura de expressão portuguesa e universal.

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