2 de março de 2015

UM POEMA DO DAVID...


Desvio dos teus ombros o lençol, 
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós! 


David Mourao-Ferreira (Portugal)

Um comentário:

Graça Pires disse...

Maravilhoso e sensual o poema do David Mourão Ferreira. Obrigada por lembrá-lo aqui.
Beijo.