25 de fevereiro de 2015

GOTÍCULAS DE VELUDO


 


O silêncio tece gotículas
Surdas de veludo
Com que me visto nua;
Pegadas lúgubres
Que sigo pretas de xisto,
Como marchas fúnebres.
Meu corpo pesado arrasto
Comigo, não sei se existo
Ou extingo, apenas sigo
O que nem eu já sei,
Talvez a pena cinzenta
Que do nada nasceu
Em minhas mãos magoadas
–Mensagem de anjos ou demónios–
Leve, indecifrada,
Enigma perdido entre meus dedos
Como pequenos grãos
E os mortais continuam como
Se nada se passasse, cegos,
Alheios ao que deveriam ver.
Lutas de nada nunca vencem,
Perdem-se no vazio do nada
E transformadas em pó
Para sempre desfalecem.
Acordem, ouçam o nascer
Da alvorada, sintam o sorriso
Pálido da lua, guardem o beijo do mar...
Acordem! Esta vida só se despe
Quando está nua de chuva e trovoada
Por acordar ou quando, caiada de branco,
Se juntam as ondas e a areia vai beijar.



Dinah Raphaellus (Portugal)

Nenhum comentário: