14 de dezembro de 2013
11 de dezembro de 2013
ARTE POÉTICA
Que el verso sea
como una llave
Que abra mil
puertas.
Una hoja cae;
algo pasa volando;
Cuanto miren los
ojos creado sea,
Y el alma del
oyente quede temblando.
Inventa mundos nuevos y cuida tu palabra;
El adjetivo,
cuando no da vida, mata.
Estamos en el ciclo de los nervios.
El músculo
cuelga,
Como recuerdo, en
los museos;
Mas no por eso
tenemos menos fuerza:
El vigor
verdadero
Reside en la
cabeza.
Por
qué cantáis la rosa, ¡oh Poetas!
Hacedla florecer
en el poema ;
Sólo para
nosotros
Viven todas las
cosas bajo el Sol.
El Poeta es un pequeño Dios.
Vicente Huidobro
(Chile)
8 de dezembro de 2013
Há um homem à entrada dos meus sonhos
Recordando Nelson
Mandela, sempre
Desato o sono e
sento-me numa pedra, mais perto de mim.
E vi-o de novo.
Tão sereno como
uma vereda para a nascente.
Digo, então, que
há um homem à entrada dos meus sonhos.
Traz, nas mãos,
promessas de trigo
e, no olhar, a
alegria, presa por um fio.
Espanta-me a
facilidade com que chora.
Deve ser por isso
que existe um rio na minha insónia
e não posso
ignorar a limpidez dos seus olhos.
Graça Pires (Portugal)
Postagem retirada na íntegra do blog:
6 de dezembro de 2013
ADEUS, MADIBA
Os fortes são generosos na vitória. Assim foi Mandela, um heroi da Humanidade.
Que o Mundo siga o seu exemplo...
RIP!
Que nunca, nunca
mais este país magnífico reviva a experiência de opressão de uns pelos outros,
nem sofra a indignidade de ser o pária do mundo.
NELSON MANDELA
4 de dezembro de 2013
MARGARET SINGANA - A VOZ DE LADY AFRICA -
Margaret Singana, uma voz da Africa do Sul, que se ouve sempre com alegria, muito popular em Angola nos anos 70, do século XX.
VEM, DESESPERO
Vem, desespero
mata em minhas
veias o brilho desta lua
a enfeitar com
simulacros de prata
a miséria de
vidas sem destino.
vem, desespero
gela nas bocas o
murmúrio de conformismo
esse ópio de
vontades
a sabotar a flor
única de esperança
na planície dos
homens de rastos.
vem, oh! vem
desespero,
e cria nos homens
o ímpeto dos tornados.
Jofre Rocha (Angola)
3 de dezembro de 2013
ARTE POÉTICA
Arte Poética II
A poesia não me pede propriamente uma especialização pois a sua arte é uma
arte do ser. Também não é tempo ou trabalho o que a poesia me pede. Nem me pede
uma ciência nem uma estética nem uma teoria. Pede-me antes a inteireza do meu
ser, uma consciência mais funda do que a minha inteligência, uma fidelidade
mais pura do que aquela que eu posso controlar. Pede-me uma intransigência sem
lacuna. Pede-me que arranque da minha vida que se quebra, gasta, corrompe e
dilui uma túnica sem costura. Pede-me que viva atenta como uma antena, pede-me
que viva sempre, que nunca me esqueça. Pede-me uma obstinação sem tréguas,
densa e compacta.
Pois a poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com
as coisas, a minha paiticipação no real, o meu encontro com as vozes e as
imagens. Por isso o poema não fala de uma vida ideal mas sim de uma vida
concreta: ângulo da janela, ressonância das ruas, das cidades e dos quartos,
sombra dos muros, aparição dos rostos, silêncio, distância e brilho das
estrelas, respiração da noite, perfume da tília e do orégão.
É esta relação com o universo que define o poema como poema, como obra de
criação poética. Quando há apenas relação com uma matéria há apenas artesanato.
É o artesanato que pede especialização, ciência, trabalho, tempo e uma
estética. Todo o poeta, todo o artista é artesão de uma linguagem. Mas o
artesanato das artes poéticas não nasce de si mesmo, isto é, da relação com uma
matéria, como nas artes artesanais. O artesanato das artes poéticas nasce da
própria poesia a qual está consubstancialmente unido. Se um poeta diz
«obscuro», «amplo», «barco», «pedra» é porque estas palavras nomeiam a sua
visão do mundo, a sua ligação com as coisas. Não foram palavras escolhidas
esteticamente pela sua beleza, foram escolhidas pela sua realidade, pela sua
necessidade, pelo seu poder poético de estabelecer uma aliança. E é da
obstinação sem tréguas que a poesia exige que nasce o «obstinado rigor» do
poema. O verso é denso, tenso como um arco, exactamente dito, porque os dias
foram densos, tensos como arcos, exactamente vividos. O equilíbrio das palavras
entre si é o equilíbrio dos momentos entre si.
E no quadro sensível do poema vejo para onde vou, reconheço o meu caminho, o
meu reino, a minha vida.
Sophia de Mello Breyner Andresen (Portugal)
1 de dezembro de 2013
POEMA DO MENINO JESUS
Paulo Autran, disse o poema sem o censurar:
POEMA DO MENINO
JESUS
Num meio-dia de
fim de Primavera
Tive um sonho
como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo
descer à terra.
Veio pela encosta
de um monte
Tornado outra vez
menino,
A correr e a
rolar-se pela erva
E a arrancar
flores para as deitar fora
E a rir de modo a
ouvir-se de longe.
Tinha fugido do
céu.
Era nosso demais
para fingir
De segunda pessoa
da Trindade.
No céu tudo era
falso, tudo em desacordo
Com flores e
árvores e pedras.
No céu tinha que
estar sempre sério
E de vez em
quando de se tornar outra vez homem
E subir para a
cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa
toda à roda de espinhos
E os pés
espetados por um prego com cabeça,
E até com um
trapo à roda da cintura
Como os pretos
nas ilustrações.
Nem sequer o
deixavam ter pai e mãe
Como as outras
crianças.
O seu pai era
duas pessoas -
Um velho chamado
José, que era carpinteiro,
E que não era pai
dele;
E o outro pai era
uma pomba estúpida,
A única pomba
feia do mundo
Porque nem era do
mundo nem era pomba.
E a sua mãe não
tinha amado antes de o ter.
Não era mulher:
era uma mala
Em que ele tinha
vindo do céu.
E queriam que
ele, que só nascera da mãe,
E que nunca
tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a
bondade e a justiça!
Um dia que Deus
estava a dormir
E o Espírito
Santo andava a voar,
Ele foi à caixa
dos milagres e roubou três.
Com o primeiro
fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo
criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro
criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o
pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo
às outras.
Depois fugiu para
o Sol
E desceu no
primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na
minha aldeia comigo.
É uma criança
bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao
braço direito,
Chapinha nas
poças de água,
Colhe as flores e
gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos
burros,
Rouba a fruta dos
pomares
E foge a chorar e
a gritar dos cães.
E, porque sabe
que elas não gostam
E que toda a
gente acha graça,
Corre atrás das
raparigas
Que vão em
ranchos pelas estradas
Com as bilhas às
cabeças
E levanta-lhes as
saias.
A mim ensinou-me
tudo.
Ensinou-me a
olhar para as coisas.
Aponta-me todas
as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as
pedras são engraçadas
Quando a gente as
tem na mão
E olha devagar
para elas.
Diz-me muito mal
de Deus.
Diz que ele é um
velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar
para o chão
E a dizer
indecências.
A Virgem Maria
leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito
Santo coça-se com o bico
E empoleira-se
nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é
estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus
não percebe nada
Das coisas que
criou -
"Se é que
ele as criou, do que duvido." -
"Ele diz por
exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não
cantam nada.
Se cantassem
seriam cantores.
Os seres existem
e mais nada,
E por isso se
chamam seres."
E depois, cansado
de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus
adormece nos meus braços
E eu levo-o ao
colo para casa.
... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Ele mora comigo
na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna
Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano
que é natural.
Ele é o divino
que sorri e que brinca.
E por isso é que
eu sei com toda a certeza
Que ele é o
Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão
humana que é divina
É esta minha
quotidiana vida de poeta,
E é por que ele
anda sempre comigo que eu sou poeta sempre.
E que o meu
mínimo olhar
Me enche de
sensação,
E o mais pequeno
som, seja do que for,
Parece falar
comigo.
A Criança Nova
que habita onde vivo
Dá-me uma mão a
mim
E outra a tudo
que existe
E assim vamos os
três pelo caminho que houver,
Saltando e
cantando e rindo
E gozando o nosso
segredo comum
Que é saber por
toda a parte
Que não há
mistério no mundo
E que tudo vale a
pena.
A Criança Eterna
acompanha-me sempre.
A direcção do meu
olhar é o seu dedo apontado.
O meu ouvido
atento alegremente a todos os sons
São as cócegas
que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem
um com o outro
Na companhia de
tudo
Que nunca
pensamos um no outro,
Mas vivemos
juntos e dois
Com um acordo
íntimo
Como a mão
direita e a esquerda.
Ao anoitecer
brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da
porta de casa,
Graves como
convém a um deus e a um poeta,
E como se cada
pedra
Fosse todo o
universo
E fosse por isso
um grande perigo para ela
Deixá-la cair no
chão.
Depois eu
conto-lhe histórias das coisas só dos homens
E ele sorri
porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos
que não são reis,
E tem pena de
ouvir falar das guerras,
E dos comércios,
e dos navios
Que ficam fumo no
ar dos altos mares.
Porque ele sabe
que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem
ao florescer
E que anda com a
luz do Sol
A variar os
montes e os vales
E a fazer doer
aos olhos dos muros caiados.
Depois ele
adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo
para dentro de casa
E deito-o,
despindo-o lentamente
E como seguindo
um ritual muito limpo
E todo materno
até ele estar nu.
Ele dorme dentro
da minha alma
E às vezes acorda
de noite
E brinca com os
meus sonhos.
Vira uns de
pernas para o ar,
Põe uns em cima
dos outros
E bate palmas
sozinho
Sorrindo para o
meu sono.
... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Quando eu morrer,
filhinho,
Seja eu a
criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao
colo
E leva-me para
dentro da tua casa.
Despe o meu ser
cansado e humano
E deita-me na tua
cama.
E conta-me
histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a
adormecer.
E dá-me sonhos
teus para eu brincar
Até que nasça
qualquer dia
Que tu sabes qual
é.
... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Esta é a história
do meu Menino Jesus.
Por que razão que
se perceba
Não há-de ser ela
mais verdadeira
Que tudo quanto
os filósofos pensam
E tudo quanto as
religiões ensinam ?
Alberto Caeiro (Portugal)
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