Afinal o que
importa não é a literatura
nem a crítica de
arte nem a câmara escura
Afinal o que
importa não é bem o negócio
nem o ter
dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que
importa não é ser novo e galante
- ele há tanta
maneira de compor uma estante!
Afinal o que
importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair
verticalmente no vício
Não é verdade,
rapaz? E amanhã há bola
antes de haver
cinema madame blanche e parola
Que afinal o que
importa não é haver gente com fome
porque assim como
assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que
importa é não ter medo
de chamar o
gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este
leite está azedo!
Que afinal o que
importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da
pastelaria, e lá fora - ah, lá fora! - rir de tudo
No riso admirável
de quem sabe e gosta
ter lavados e
muitos dentes brancos à mostra
Mário Cesariny (Portugal)
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