22 de março de 2012

RUY DUARTE DE CARVALHO - POEMA

 

A terra que te ofereço





I

quando,

ansiosa,

pela primeira vez

pisares

a terra que te ofereço,

estarei presente

para auscultar,

no ar,

a viração suave do encontro

da lua que transportas

com a sólida

e materna nudez do horizonte.



quando,

ansioso,

te vir a caminhar

no chão da minha oferta,

coloco,

brandamente,

em tuas mãos,

uma quinda de mel

colhido em tardes quentes

de irreversível

votação ao sul.



II

trago

para ti

em cada mão

aberta,

os frutos mais recentes

deste outono

que te ofereço verde:

o mês mais farto de óleos

e ternura avulsa.

e dou-te a mão

para que possas

ver,

mais confiante,

a vastidão

sonora

de uma aurora

elaborada em espera

e reflectida

na rápida torrente

que se mede em cor.



III

num mapa

desdobrado para ti,

eu marcarei

as rotas

que sei já

e quero dar-te:

o deslizar de um gesto,

a esteira fumegante

de um archote

aceso,

um tracejar

vermelho

de pés nus,

um corredor aberto

na savana,

um navegável mar de plasma

quente.



Ruy Duarte de Carvalho (Angola)

Nenhum comentário: