O silêncio tece
gotículas
Surdas de veludo
Com que me visto
nua;
Pegadas lúgubres
Que sigo pretas de
xisto,
Como marchas
fúnebres.
Meu corpo pesado
arrasto
Comigo, não sei se
existo
Ou extingo, apenas
sigo
O que nem eu já
sei,
Talvez a pena
cinzenta
Que do nada nasceu
Em minhas mãos
magoadas
–Mensagem de anjos
ou demónios–
Leve, indecifrada,
Enigma perdido
entre meus dedos
Como pequenos grãos
E os mortais
continuam como
Se nada se
passasse, cegos,
Alheios ao que
deveriam ver.
Lutas de nada nunca
vencem,
Perdem-se no vazio
do nada
E transformadas em
pó
Para sempre
desfalecem.
Acordem, ouçam o
nascer
Da alvorada, sintam
o sorriso
Pálido da lua,
guardem o beijo do mar...
Acordem! Esta vida
só se despe
Quando está nua de
chuva e trovoada
Por acordar ou quando,
caiada de branco,
Se juntam as ondas
e a areia vai beijar.
Dinah Raphaellus
(Portugal)