28 de julho de 2012

Alucinação

 
 
 
choram os murilaondes

o sangue dos homens

vertido inutilmente…

a língua bifurcada

dos iniciados

é tocada

com o dente da serpente

e os tambores gemem

na profundeza verde-escura

da selva

a palavra maldita:

- cálua, cálua, cálua!!!

a lua,

mutunga brilhante

no olundongo

entoado pelas nuvens,

semeia sombras confusas

de comedores-de-almas

espalhando-se pela terra…

dos eumbos

elevam-se gritos de dor…

no mato,

as hienas dançam

ao som ritual

das mbulumbumbas

e os seus olhos

chispando fogo

são corações humanos

transformados em brasas…

(a floresta retorce-se toda

num esgar de sofrimento)

e, de longe,

no ribombar dos trovões,

os tambores gargalhantes

dos ngngas…

nos eumbos,

a seiva vermelha

alucinada

banha os olhos dos homens…

… o irmão mata o seu irmão!...



Jorge Arrimar (Angola)

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