Brevemente nas bancas, o mais recente livro do poeta angolano, Décio Bettencourt Mateus.
MEU POEMA ACORDA
DORIDO!
À memória de Luzia Bettencourt M.,
minha mãe.
Manhã virgem manhã
cedo
meu poema acorda
dorido
manhãs frias
vai à igreja vai à
missa
em pernas de
pressa:
ó Senhor pão às
minhas crias.
Meu poema sofre a
madrugada
a espreitar a
aurora
acarreta água
ensonada
enche bidão enche
tamborão
de olho na torneira
música sofrida no
coração.
Dorme insónias na
noite escura
acorda constrangido
a praça
a vender gelados
compra esperança
recebe troco
ternura
bem diz os kwanzas
bem diz trocados.
Caminha um sol
abrasador
preocupação no
rosto
meu poema tem dor
a rusga a falar
serviço militar
a rusga:
kwata-kwata miúdos a passear
kwata-kwata miúdos,
oh desgosto!
Meu poema desperta
alvorecer
lava roupa
amontoada no tanque
rebenta mãos de
sofrer
vende gelo no Roque
e sofre filho
fugidio emigrado
filho mwangolé
exilado.
Meu poema dorme
cansado
é pai mãe marido
mulher...
cuida os miúdos
atende o marido
dorme dorido prazer
dorrme dorido sonho
de trocados.
Meu poema dobra
joelhos em manhãs frias:
ó Senhor pão às
minhas crias!
Décio Bettencourt
Mateus
in Gente de Mulher
Luanda, 10 de
Agosto de 2006.
Um comentário:
Mano, obrigado. Um kandandu.
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