29 de março de 2010

Blog da Semana - 01 - 2010

A partir desta semana Cores & Palavras vai passar a indicar um blog por semana. Para abrir o acontecimento temos:


POESIA LILAZ-CARMIM

POESIA DE DINAH RAPHAELLUS DE COR LILÁS E CARMIM.


Bem vindos ao meu mundo de fantasia, poesia rosa, mar a crescer no beijo das Ondinas como que bailando no tule rendilhado das ondas ao entardecer. Poesia é uma forma de estar na vida, um desafio ao ser humano que através de palavras simples ou mais complexas, descreve o que sente... no entanto sem que ninguém ou muito poucos adivinhem o que lhe vai no mais profundo do seu âmago. É esta uma das muitas razoes porque amo a poesia. Ela faz parte da minha vida e sem ela nada sou. Entrem, não julguem, tentem entender o poeta se conseguirem!!! Bjo
Dinah



FADO

Ao longe... ouve-se um fado
Que gemendo num lamúrio
Condenado
Desce à Mouraria, atravessa Lisboa
Vestindo capa negra,
Viajando à toa
Amando a guitarra
Dedilhando a Madragoa
Segue cigano sem destino
Sempre com ar triste
No entanto ladino
A quem a todos e ninguém amava
Eis pois o retrato
Do fado errante
Que um dia me bateu à porta
Noite dentro, hora morta
Todo galante o safado
Abri-lhe a porta... entrou,
Para sempre...ficou,
O grande malvado?!!

Dinah Raphaellus (Portugal)

26 de março de 2010

JANAÍNA: A MINHA SOLIDARIEDADE

Solidariedade é o mínimo que podemos prestar aos nossos amigos quando algo como o que aconteceu com a Janaina, uma perda irreparável, veja: http://enredosetramas.blogspot.com/2010/03/nao-confio-mais-no-sedex.html



Jacinta Passos, poeta bahiana. Foto retirada http://giramundo-cirandeira.blogspot.com/

Eram livros de poesia da mae de Janaína, a poeta brasileira Jacinta Passos, edicoes originais e antigas que tinham um valor inestimável para sua filha e que se perderam por um mau servico prestado pelo sedex, correios do Brasil.
Estamos juntos Janaína!

 Acrescento o apelo feito no blog da Martha http://mariamuadie.blogspot.com/ :

A filha de Jacinta Passos, Janaína Amado, prepara a edição completa da obra dela, acompanhada de biografia e fortuna crítica, a ser publicada em breve pelas editoras da EDUFBA e Corrupio. Para concluir esse trabalho, Janaína enviou por sedex de Maceió para Salvador quatro livros originais escritos nas décadas de 1940 e 1950 pela poeta Jacinta Passos:

Nossos Poemas
Canção da Partida
Poemas Políticos
A Coluna

Então aconteceu uma coisa muito triste: os livros foram extraviados. Imaginam que perda lamentável?
Faço um apelo aqui: se alguém que ler esse post tiver um desses livros, por favor entre em contato com Janaína: http://enredosetramas.blogspot.com/





Canção do amor livre



Se me quiseres amar
não despe somente a roupa.


Eu digo: também a crosta
feita de escamas de pedra
e limo dentro de ti,
pelo sangue recebida
tecida
de medo e ganância má.
Ar de pântano diário
nos pulmões.
Raiz de gestos legais
e limbo do homem só
numa ilha.


Eu digo: também a crosta
essa que a classe gerou
vil, tirânica, escamenta.


Se me quiseres amar.

Agora teu corpo é fruto.
Peixe e pássaro, cabelos
de fogo e cobre. Madeira
e água deslizante, fuga
ai rija
cintura de potro bravo.


Teu corpo.


Relâmpago depois repouso
sem memória, noturno.


Jacinta Passos (Brasil) 1914 - 1973

24 de março de 2010

NEGRA DA TERRA

Foto K. Luchansky




Negra de carapinha dura
Não estraga teus cabelos,
Me jura.
(Teta Landu*)


Minha negra brinca a gingar
Magia da kianda
Negra anda-que-anda
E ginga-que-ginga
Andar de negra é banga
Andar de negra é cântico do mar!


Minha negra ginga elegante
Nas curvas duma viola
Nas ondulações duma mbunda
Negra ginga e rola
E encanta gente
Ginga e rola a negra linda!


Ginga de negra é cântico do mundo
Não usa coisas de tissagem
Usa tranças de bailundo
A negra jovem
E ginga-que-ginga a dançar
Ginga nas ondas do mar!


Minha negra mulher cristalina
Não usa coisas de postiços
Usa carapinha
E tranças de linha
E tem magia de feitiços
A preta africana!


Minha negra beleza genuína
Ginga-que-ginga
Dança-que-dança a preta angolana
Minha negra mulher da terra
Mulher negra
Penteado à africana!


Minha negra mulher formosa, mulher cheia
Mbunda farta
Não conhece cabeleireira alheia
Usa carapinha de preta
E traz na voz a tradição negra
Traz na voz o pulsar da terra!


Décio Bettencourt Mateus (Angola)
in Xé Candongueiro!


*Teta Landu: músico angolano.

Créditos: http://mulembeira.blogspot.com/

15 de março de 2010

DEBITAS-ME SILÊNCIOS…

 Á entrada de Mbanza Kongo (foto Alex. Correia)


Debitas-me silêncios
E reticências…
Quando na dureza da voz macia
Dos teus lábios
Ornamentas flores e lavras
No silêncio das tuas palavras!


Debitas renúncias
E crucificas-me as mazelas:
Teu olhar fala-me paisagens
Rosas e margens
A brincarem às estrelas
Quando finges silêncios e reticências…


E na dureza da ausência
Um sopro distante
Angustiante
Um silêncio de melancolia
Na voz da noite do luar
Uma eternidade nos dias a folhear!


Debitas-me silêncios
E açoites de negativas
Em palavras altivas
À noite murmuras balbucios
Ao frio d’almofada
E lamurias nossa paixão crucificada!


Asseveras-me a justiça
A transbordar motivos mil
Flechas e açoites
No mistério do frio das noites;
Uma taça
E champanhe: a noite convida-nos dócil!


Décio Bettencourt Mateus (Angola)
in "Xé Candongueiro".

O TANGO TAMBÉM SE DANCA NO AR...

10 de março de 2010

MEU CORPO UM LIVRO

Este poema encontra-se publicado neste livro e no blogue da poeta http://poesialilazcarmim.blogspot.com/  


Antologia de vários autores - Lugar da Palavra

Meu corpo um livro de poesia,
Onde tu lês os poemas
Declamados em silêncio
Por minha pele.
Teu corpo uma epopeia,
Onde minha boca se sacia
Ao resgatar estrofes,
Com sabor a mel.
E na beleza da métrica perfeita
Nossos corpos bailando
Ao som das rimas
Cristalina e poética,
Exalando odores dourados
De primaveras outonais.
Numa lírica rica e fluída.
Onde tu barco eu ondina,
Nos amamos pelos caudais dos rios...
Quiçá sonhos astrais


Dinah Raphaellus, in A Traição de Psiquê

2 de março de 2010

O SUL

Lagoa do Arco - Tombwa

O sol o sul o sal

As mãos de alguém ao sol
O sal do sul ao sol
O sol em mãos de sul
E mãos de sal ao sol


O sal do sul em mãos de sol
E mãos de sul ao sol
Um sol de sal ao sul
O sol ao sul
O sal ao sol
O sal o sol
E mãos de sul sem sol nem sal


Para quando enfim amor
No sul ao sol
Uma mão cheia de sal?


Ruy Duarte de Carvalho (Angola)