17 de setembro de 2009

PRADO PAIM - LEMBRAM-SE DE "BARTOLOMEU"?




Domingos Prado Paím foi o primeiro músico do país a conquistar o Disco D´Ouro, com 34 mil cópias vendidas em 1974. Intérprete e compositor, hoje aos 67 anos de idade, o célebre cantor vê-se inteiramente votado ao abandono, sem qualquer recurso para dar continuidade sobretudo aos seus projectos artísticos.






O cantor queixa-se da falta de tudo: desde apoios à realização de concertos e galas adequados à sua vertente artística. Prado Paím deixou de gravar há 35 anos, exactamente na altura em que conquistou o Disco D´Ouro.




Com a venda das 34 mil cópias do seu único disco conseguiu comprar, no mesmo ano, a sua casa de madeira, no município do Sambizanga, onde ainda se encontra a residir. Uma casa que se encontra em estado deteriorado, a necessitar de obras de reabilitação urgentes.






Prado Paím confessa sentir-se cada vez mais abandonado, diz que já bateu a várias portas, algumas delas resultando em meras promessas: “Para mim, a felicidade é aquilo que nós alcançamos no decurso da nossa vida, o bem-estar. Mas como tudo corre mal na vida, este desejo não se alcança e muitas vezes sentimo-nos muito aflitos e choramos”, disse. O cantor está parado desde 1974.






O seu último espectáculo realizou-se em 1992, em Portugal, no âmbito dos acordos de Bicesse. De lá para cá, a sua vida artística foi regredindo aos poucos por motivos de saúde, por um lado, por falta de incentivos por outro. Actualmente, vai sobrevivendo com alguns apoios, sobretudo dos próprios filhos. “Tenho o primeiro Disco D´Ouro, conquistado em 1974. O caso não é para brincadeiras, não é uma obra que eu fiz à toa. Não a fiz por mera casualidade; tenho um troféu, está aí e justifica plenamente.




Foi conquistado antes da Independência e até agora não se diz nada, não se divulga nada e eu também não me sinto bem. Vejam que o troféu surge num período muito delicado. É triste que hoje ninguém reconheça este feito”, desabafou.




Prado Paim refere que quer aproveitar as energias de que ainda dispõe para gravar o CD há muito desejado, o que no seu entender, mesmo que seja o último, poderá honrar o compromisso que tem para com a família e o público, considerando que a sua idade, aliada a vários factores, poderá levá-lo a fechar as vistas a qualquer momento. Além das músicas antigas que fizeram dele um artista de sucesso, deixando a sua marca nas décadas de 70 e 80 com trechos como “Bartolomeu” (semba em homenagem ao seu amigo assassinado no Sambizanga por acudir uma jovem que fora violada) “Esperança” e “Zênze”, Prado Paím disse ter preparados dez novos temas, podendo incluir outros durante os ensaios.






Toda a acção está dependente de patrocínios para poder entrar em estúdio e gravar, de modo a satisfazer os admiradores e apreciadores da sua música. “Estou razoavelmente bem de saúde e queria fazer o meu último lançamento. De repente posso fechar as vistas e as minhas obras ficarem sem efeito. Tenho boas obras por lançar. Estou a andar de baixo para cima à procura de apoios para lançar o meu disco, poderá não ser o último, mas digo já o último, porque quanto menos se espera, a qualquer momento um indivíduo cai.






Por exemplo, diabo seja surdo, de repente, posso sentir-me mal, cair a qualquer momento e morrer. Então fico sem deixar o meu testemunho, as obras, e como sabe, começam a apanhá-las e executí-las de qualquer maneira por outros indivíduos, conforme tenho acompanhado, e tudo acaba por ficar nos diversos, sem qualquer justificação. E quem ganha com isso são outras pessoas.






Quero evitar que tal aconteça”, realçou Paím. O artista lançou um alerta às entidades ligadas à promoção de actividades culturais para prestarem o seu apoio ao lançamento do tão almejado disco, para o qual diz ter já seleccionado alguns instrumentistas, como Joãozinho, Bana Maior, entre outros. “Esperança de fazer um novo CD nunca perdi, porque eu nasci para a música. Quando eu era mais novo, naquele tempo, eu sonhava com alguém a me dar música, sou de uma família originária de músicos, cantores e compositores, e sempre cantaram muito bem. Mas, actualmente, lamento simplesmente a falta de apoios”.


 
Créditos: O País on line