1 de maio de 2008

Ondjaki e o Acordo Ortográfico

"Um dia ainda vou ser que nem Manoel de Barros que só faz entrevista por e-mail. É mais seguro, porque não deturpam. Aqui no Brasil já deturparam bastante. Não percebem (entendem) bem e deturpam. A ponto de eu falar uma coisa e aparecer outra. Ou então não entendem e começam a abrasileirar o discurso. Ora, eu não falo brasileiro, falo português de Angola, não gosto de ver as minhas citações abrasileiradas porque não falei assim. Tiram os artigos, põem gerúndios. Sou completamente a favor da particularidade cultural dos povos. O que não tem nada a ver com todos os outros laços que nos unem, que são muito bonitos. Mas também é bonito que cada um fale como fala. Não vamos todos falar igual. Nem todos falar como os portugueses, que não acho feio, nem todos falar como os brasileiros, só porque são mais. Que também não acho feio. Por isso não concordo quando o Agualusa argumenta: ‘Ah, mas os brasileiros são 180 milhões’. Podiam ser 500 milhões. Em Cabo Verde são 400 mil e falam como eles quiserem. Essa conversa tem passado tanto lá nos encontros que tivemos agora, do Acordo Ortográfico. Quem concorda, quem não concorda. E eu sempre argumento: Não posso concordar ou não concordar com uma coisa que eu não conheço. Nunca ninguém me explicou."

in Correio Braziliense



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Eu, Um Negro, de Fábio Sena

Retirado de angolaharia.