19 de julho de 2007

PARI ESTA DOR


Pari esta dor este tormento

Dor do mundo, lamento de mim.

E foi durante a gravidez

Que eu senti,

O sonho de um incenso

Um amor grande, imenso

Um pedaco de ti!

De ti sim Angola chaga das chagas

Para a qual nao chegam só palavras

Para as feridas tratar

De ti sim terra bonita

Sentimento que grita

Na minha alma ao exalar.

Ao exalar o teu nome

Que num vazio odre

Choras a fome dos teus filhos

E deixas escapar pardos olhos

de cegos brilhos,

provocados pela fartura da fome.

Em suas ossadas imensas,

Casta dor condensas,

Numa novena vã de proteger tuas crias.

Pari, pari no cheiro da tua terra quente

Este sonho de ajuda ausente.

E é numa oracão que peço

Deixem-nas descansar.

Pobres almas condenadas,

Grandes conquistadores de martírios.

Deixai-as descansar

Num vale de lirios a tão procurada

Paz e liberdade deixai-as abraçar!!!



Dinah Raphaellus

10 de julho de 2007

O homem que vinha ao entardecer

Homens Muilas (Angola)



(Ouvindo “Sonho de Um Camponês”, por Teta Lando)


Falava com devagar, ajeitando as
palavras. Falava com cuidado,
houvesse lume entre as palavras.

Chegava ao entardecer, os sapatos
cheios de terra vermelha e do perfume
dos matos.

Cumpria rigorosamente os rituais.

Batia primeiro as palmas (junto
ao peito)
Depois falava.
Dos bois, das lavras, das coisas
simples do seu dia-a-dia. E todavia
era tal o mistério das tardes quando
assim falava
que doía.




Jose Eduardo Agualusa (Angola)

PALAVRAS DO CHEFE SEATTLE



"Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa mãe. Tudo quanto fere a terra - fere os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
De uma coisa sabemos. A terra não pertence, ao homem: é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará."


***


"Will you teach your children what we have taught our children? That the earth is our mother? What befalls the earth befalls all the sons of the earth.
This we know: the earth does not belong to man, man belongs to the earth. All things are connected like the blood that unites us all. Man did not weave the web of life, he is merely a strand in it. Whatever he does to the web, he does to himself."



Chefe Seattle (Indio da America do Norte)

Chief Seattle (North American Indian)

9 de julho de 2007

BLOGS DESTAQUE CUPIDO FONTE DE AMOR

O blog Labirinto do Sol e da Lua fez o favor de nomear Cores&Palavras para Blogs Destaque Cupido Fonte de Amor, que muito agradeço.

Passo a nomear os seguintes:

http://poesialilazcarmim.blogspot.com/

http://mulembeira.blogspot.com/

http://10poemas.blogspot.com/

http://brisapoetica.blogspot.com/

http://malambas.blogspot.com/

Monangamba


Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações:

Naquela roca grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.

O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.

Negro da cor do contratado!

Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:


Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinqüenta angolares
"porrada se refilares"?

Quem?

Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
- Quem?

Quem dá dinheiro para o patrão comprar
maquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?

Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande - ter dinheiro?
- Quem?

E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
- "Monangambééé..."

Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras

- "Monangambééé..."


Antonio Jacinto 1924 - 1991 (Angola)

Deformação



Ruínas de corpos esterilizados
Marcados por grades de desespero
Vigas sangrentas migram
Através da muralha de pedra


A trilha se desintegra
Se bifurca, se trifurca
Desabam-se as sombras cavernosas
Em gélidas formas mutiladas


Gritos de espadas despedaçadas
Flechas despencam num abismo de dor
Armadilhas travam as lágrimas
Dos peregrinos padecidos nos enigmas de sal


Pequenos corrompem gigantes
A lábia cruel destroça a taverna dos risos
A névoa dissipa a ilusão
A Torre Branca jaz imune sob um céu esfumaçado


Negritude de almas em decomposição
Narinas escaldantes carregam tesouros
Asas da morte lambuzam seu veneno
Nas cordas putrefatas do destino


Autora: Bruxinhachellot (Brasil)

htpp://labirintodosoledalua.blogspot.com

MINHA ESTRELA DA TARDE


Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!



José Carlos Ary dos Santos (Portugal)

I, Too, Sing America


I am the darker brother.
They send me to eat in the kitchen
When company comes,
But I laugh,
And eat well,
And grow strong.

Tomorrow,
I'll be at the table
When company comes.
Nobody'll dare
Say to me,
"Eat in the kitchen,"
Then.

Besides,
They'll see how beautiful I am
And be ashamed--

I, too, am America.


Langston Hughes -1902 - 1967- USA

SOEIRO PEREIRA GOMES



Joaquim Soeiro Pereira Gomes nasceu em Gestaçô, Porto, em 1910. Frequentou a Escola Agrícola de Coimbra, onde tirou o curso de regente agrícola, e mais tarde emigrou para Angola, onde exerceu a sua profissão durante cerca de um ano, na Companhia do Catumbela. Voltou para Portugal e fixou-se em Alhandra, em 1932, onde trabalhou como empregado de escritório na Fábrica de Cimentos Tejo. Aqui desenvolveu uma intensa actividade de dinamização cultural junto do operariado.Mas foi como escritor que Soeiro Pereira Gomes se notabilizou, sendo um dos mais coerentes e claros exemplos da ficção neo-realista em Portugal."É nas páginas de O Diabo, semanário fundamental no processo de elaboração de uma poética e de uma consciência geracional neo-realistas, que publica, a partir de 1939, os seus primeiros textos." (Osvaldo Silvestre)Da sua obra constam dois romances, onde a crítica social é profunda, e vários contos, que são uma exaltação do comunismo e dos seus militantes.Militante comunista, Soeiro Pereira Gomes foi membro do Comité Central do PCP, o que o levou a entrar na clandestinidade em 1943, condição em que viria a morrer seis anos depois, vítima de tuberculose, impossibilitado de receber o tratamento médico de que necessitava.A sua obra maior é Esteiros, publicado em 1941, com ilustração de Álvaro Cunhal. "Dedicado aos "filhos dos homens que nunca foram meninos" o romance acompanha (...) as deambulações de um grupo de míudos (...), cuja condição social lhes impõe, em vez da escola, o trabalho numa rudimentar fábrica de tijolos à beira-Tejo. É certo que algum primarismo de processos construtivos, bem como algum esquematismo, são reconhecíveis no romance (...). Tudo isso, porém, Esteiros transcende pela terrível verdade humana de um grupo de crianças que responde à violência do sistema social através de uma solidariedade alimentada por uma permanente derrogação à moral social dominante (...)"(idem)Engrenagem "é igualmente uma obra central do nosso neo-realismo, antes de mais por ser uma das muito poucas abordagens do universo do capitalismo industrial, de facto quase ausente da produção neo-realista" portuguesa.(idem)Engrenagem, romance publicado em 1951, já depois da sua morte, foi escrito na clandestinidade, assim como os Contos Vermelhos, Última Carta e Refúgio Perdido, também publicados postumamente.



(Retirado de Enciclopédia Universal Multimédia On-Line)

6 de julho de 2007

ENTREVISTA A SOUSA JAMBA



Entrevista de Jorge Eurico (http://www.noticiaslusofonas.com/) ao escritor angolano Jose de Sousa Jamba.

"Governo angolano é parte
da cleptocracia africana"
- 10-May-2006 - 14:29

"O jornalista e escritor Sousa Jamba (intelectual sério que assume e escreve o que lhe vem à cabeça) confessa não ter jeito para graxa e, como quem quer dar à UNITA o que é do Galo Negro e aos militantes o que é dos maninhos, diz sem rodeios nem eufemismos que hoje o seu partido já não é dirigido de forma autocrática nem há mais espaços para iniciativas teatrais como no passado. Distante mas sempre próximo do País, o autor do “Patriotas”, que não é membro da União dos Escritores Angolanos por acreditar que os grandes escritores não são produtos de uniões, acusa, por sua conta e risco, os governantes angolanos de fazerem parte da classe cleptocrática do continente africano e confessa não entender como é que Eduardo dos Santos relaciona a sua vida de tantos privilégios às suas origens humildes de um bairro pobre de Luanda, o Sambizanga."




http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=14344&catogory=news

SOUSA JAMBA - ESCRITOR ANGOLANO



Escritor e jornalista angolano, Jose de Sousa Jamba nasceu a 9 de Janeiro de 1966, em Missão Dondi (Angola).

Entre 1976 e 1984, em consequência da guerra, emigrou para a Zâmbia, onde fez os estudos em língua inglesa e com a qual começou a sua produção literária. Em seguida, regressou a Angola, trabalhando como jornalista nas zonas controladas pela União Nacional da Independência Total de Angola (UNITA).

Em 1986, adquiriu uma bolsa para estudar na Grã-Bretanha, onde fez estudos superiores e de jornalismo. Como jornalista, foi repórter da UNITA, e tem desenvolvido actividades nos Estados Unidos, Brasil, Portugal e Grã-Bretanha, colaborando regularmente com jornais como The Spectator, O Independente, Terra Angolana.

Escritor-residente em diversas universidades da Escócia, Sousa Jamba publicou as suas primeiras obras em inglês: Patriots (1990, Patriotas, tradução portuguesa, 1991), On the Banks of the Zambezi (1993), A Lonely Devil (1994, Confissão Tropical, tradução portuguesa, 1995).


************************************************************************************* ENGLISH

Angolan writer and journalist, Sousa Jamba was born on January 9th 1966, in Missão Dondi (Angola).

Between 1976 and 1984, as a consequence of the war, he emigrated to Zambia, where he studied English and began his literary production. After that, he went back to Angola, working as journalist in the areas controlled by the União Nacional da Independência Total de Angola (UNITA).

In 1986, he was granted a scholarship to study in Great Britain, where he studied journalism. As a journalist, he was reporter for UNITA and has been developing activities in the United States, Brazil, Portugal and Great Britain, working on a regular basis with newspapers such as The Spectator, O Independente, Terra Angolana.

Resident-writer in various universities in Scotland, Sousa Jamba published his first works in English: Patriots (1990), On the Banks of the Zambezi (1993), A Lonely Devil (1994).

EM TEUS DENTES...


Em teus dentes
o sol
é diamante de fantasia
a lua
caco-de-garrafa
e
a mentira
verdade vagabunda
errando de cágado
em torno da lagoa dos olhos da noite
na treva aveludada
de tua pele
os dedos curiosos
são estrelas de marfim
à busca
de um dia caprichoso
despontando de miragem
por detrás das corcundas de elefantes adormecidos


Arlindo Barbeitos (Angola)

LÍNGUA PORTUGUESA



Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...


Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


Olavo Bilac - Brasil

4 POEMS OF FERNANDO PESSOA (ENGLISH)


The most celebrated Portuguese poet, who had a major role in the development of modernism in his country. Pessoa was a member of the Modernist group Orpheu; he was its greatest representative. Pessoa's use of "heteronyms", literary alter egos, who support and criticize each other's works was also unconventional. During his career as a writer Pessoa was virtually unknown and he published little of his vast body of work. Most of his life Pessoa lived in a furnished room in Lisbon, where he died in obscurity.



PORTUGUESE SEA (MAR PORTUGUES)

O sea of salt, how much of all your salt
Contains the tears of Portugal?
So we might sail, how many mothers wept,
How many sons have prayed in vain!
How many girls betrothed reamined unwed
That we might posses you, Sea!

Was it worth the effort? Anything 's worth it
if the soul's not petty.
If you'd sail beyond the cape
Sail you must past cares, past grief.
God gave perils to the sea and sheer depth,
But mirrored heaven there.




THE PRINCE (O INFANTE)


God will, Man dreams, the work is born.
God willed that all the earth be one,
That seas unite and never separate.
You he blessed, and you went forth to read the foam.

And the white shore lit up, isle to continent,
And flowed, even to the world's end,
and suddenly the earth was seen complete,
Upsurging, round, from blue profundity.
Who blessed you made you portuguese.
Us he gave a sign: the sea's and our part in you.
The Sea fulfilled, the Empire fell apart.
But ah, Portugal must yet fulfill itself!





AUTOPSYCHOGRAPHY (AUTOPSICOGRAFIA)


The poet is a faker. He
Fakes it so completely,
He even fakes he's suffering
The pain he's really feeling.

And they who read his writing
Fully feel while reading
Not that pain of his that's double,
But theirs, completely fictional.

So on its tracks goes round and round,
To entertain the reason,
That wound-up little train
We call the heart of man.




LIBERTY (LIBERDADE)

Ah, how delightful
Not to do one's duty,
Having a book to read
And not read it!
Reading's a bore,
Studying's worthless.
The sun gilds things
Without literature.

Willy nilly runs the rivers
Without an original edition.
And the breeze, this very one,
So natural, matutinal,
Since it has time, its in no hurry...

Books are papers daubed with ink.
Study's the thing where the distinction
Is unclear between nothing and nothing at all.

When there's fog, so much the better
To wait for King Sebastian's return -
Wheter he comes or not!

Poetry is grand, and goodness too, and dancing...
But best of all are children,
Flowers, music, moonlight, and the sun
That sins only when aborting and not bearing.

And more than all of this
Is Jesus Christ
Who knew nothing of finances
Nor even claimed he had a library...







By Fernando Pessoa - Portugal - (1888 - 1935)

4 de julho de 2007

As mãos



Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.


Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967 - Portugal