Museu da Escravatura - Luanda
Na tristeza do meu
kissange
o lamento do
pensamento
das gentes
que partiram p’ra
longe
que partiram p’ra
outros horizontes
em cânticos de
desencanto.
Nas tuas ondas
cansadas
oiço passos
antigamente
passos escravos
acorrentados
cativos
em liberdade de
correntes
passos escravos no
lamento tuas ondas.
No longe tua
superfície ondulada
cheiro a navios
negreiros
dos homens
acorrentados
maltratados
na tua superfície
azulada
a fumaça dos navios
guerreiros:
Ó museu da escravatura
fala-me a história
enterrada na
memória dos dias
fala-me os negros
escravizados
vendidos
nas noites sofridas
de brancura.
Fala-me os rostos
transpirados
desgastados
nos homens valentes
arrastados
prisioneiros
em navios negreiros
em navios nos aléns
fumegantes.
Ó museu da
escravatura
impávido viste meus
irmãos
fazerem travessia
do infinito
em inferno de
porões
fala-me esta
angústia no peito
esta angústia
loucura.
Ó museu da
escravatura
ainda sinto no
pulsar tuas águas
dor das mágoas
dos meus
antepassados
maltratados
acorrentados
ainda doem os ossos
nas noites de torturas.
Ó museu ingrato
fala-me o ranger de dentes
Nos navios perdidos
nos horizontes!
Décio Bettencourt
Mateus (Angola)
in Gente de Mulher