28 de maio de 2013

ESTE RIO QUE DESCUBRO EM MIM

Aconselho uma visita ao blog do poeta António E. Lico, excelente poesia!


Foto da Internet, autor desconhdecido.


Este rio que descubro em mim
não sei em que fontes nasceu.
É de melancolia a frescura
desta água, e deste rio
que me mata a sede
e põe navios no teu riso.
Será de espanto esta torrente
que me enche e me esvazia
e não sei em que fontes nasceu
este rio que descubro em mim.

António Eduardo Lico

25 de maio de 2013

POEMA DE DÉCIO BETTENCOURT MATEUS - ANGOLA


Foto Pedro Soares


O TRUMUNO!

Pés voam descalços
o quente d’areia
trumuno o jogo da bola
que gira e rola
pernas marotas riscam espaços
em bolas apressadas de meia.
 
Correrias em pernas loucas
cololas, cabritos
fintas e trucas
na disputa da bola
na fuga à escola
a garotada feliz aos gritos.
 
Dribles, fintas e truques
em pernas craques
o mundo na garotada
em peitos suados de fora
a escola à espera
o velho em fúrias de porrada.
 
Nos pés do maestro
mestria no passe ao companheiro
o maestro finta e escova
enfia na ova
do defesa
o maestro finta e chuta p’ra baliza.
 
Uaaá! Uaaá! Chulipas, quinhões e cabritos
brigas e porradas
cafriques
quedas e truques
acode, acode, é batota, é batota. Apitos,
algazarra na garotada.
 
– Oh!, saudades! Eu nas pernas da garotada
no peito da miudagem
a fazer vadiagem
a correr descalço um campo d’areia;
depois o medo a tareia
eu em medo, o velho e a porrada!
 
Eu no trumuno do futebol
É golo! Golóóóóóóóóóóóóóóóóóó!

  
Décio Bettencourt Mateus
      
in Gente de Mulher
    
Luanda, 05 de Setembro de 2006.


22 de maio de 2013

TRES POEMAS DE SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN


Hoje, tenho saudades de Sophia, porque tenho saudades do Mar...




LIBERDADE

O poema é
A liberdade

Um poema não se programa
Porém a disciplina
— Sílaba por sílaba —
O acompanha

Sílaba por sílaba
O poema emerge
— Como se os deuses o dessem
O fazemos

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"


ESTA GENTE

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"


FUNDO DO MAR

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.


 Sophia de Mello Breyner Andresen  (Portugal, 1919 - 2004)

Baia Azul - Benguela

21 de maio de 2013

A VDERDADE SOBRE KATYN - UM FILME DE ANDREZE WAJDA

A verdade sobre o Massacre da Floresta de Katyn, nao foram os nazistas mas os soviéticos... O filme em versao castelhana.




O Massacre de Katyn foi uma execução em massa, por parte da União Soviética, de milhares de oficiais militares, policiais, intelectuais, padres, prisioneiros de guerra e civis poloneses. Tal massacre foi um dos crimes soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial e ocorreu no início de 1940 na Floresta de Katyn (Rússia). Pelos menos 21.768 poloneses foram executados. O responsável pelo ato foi Lavrentiy Beria, chefe da NKVD (Comissariado do povo para assuntos internos). A descoberta das valas comuns aconteceu em 1943 pelas forças armadas alemãs, quando a Wehrmacht tomou o controle da região e ficou sabendo do massacre pelos relatos da população civil. O governo polonês, que estava em exílio em Londres e havia terminado as relações com a União Soviética após o inicio da guerra, acusou os soviéticos pelo sumiço dessas pessoas. O governo soviético, liderado por Josef Stalin, negou ter capturado e sumido com essa gente e passou a responsabilidade para a Alemanha. Durante o regime comunista na Polônia, tentou-se esconder o massacre de Katyn da população. Após a queda da União Soviética as verdades do massacre foram finalmente divulgadas.


Não te Esqueças Nunca


Não te esqueças nunca de Thasos nem de Egina
O pinhal a coluna a veemência divina
O templo o teatro o rolar de uma pinha
O ar cheirava a mel e a pedra a resina
Na estátua morava tua nudez marinha
Sob o sol azul e a veemência divina



Não esqueças nunca Treblinka e Hiroshima
O horror o terror a suprema ignomínia

Sophia de Mello Breyner Andresen




                                        Tom Jemski's photograph of the Katyn Memorial in Baltimore, Maryland, USA.

TE QUISERA VERDE


Foto da Net


Te quisera verde

Queria-te como o trigo
ondulando, verde, ao longe,
como uma melodia.
Queria-te como o vento
Que ondula o trigo,
ao longe, como uma melodia.
Queria-te verde. Como a melodia
entoada pelo trigo, que ondula,
ao longe, embalado pelo vento.

António Eduardo Lico

17 de maio de 2013

POEMA DE CHINUA ACHEBE




Benin Road

Speed is violence

Power is violence

Weight violence

The butterfly seeks safety in lightness

In weightless, undulating flight

But at a crossroads where mottled light

From old trees falls on a brash new highway

Our separate errands collide

I come power-packed for two

And the gentle butterfly offers

Itself in bright yellow sacrifice

Upon my hard silicon shield.


Chinua Achebe (Nigéria), falecido este ano)

Postagem feita para o meu amigo e poeta Décio Bettencourt Mateus, estamos juntos, meu mano!!

15 de maio de 2013

PARABENS PARA A MARTHA

Martha Galrao publicou seu segundo livro, infelizmente nao foi possivel para mim estar presente. Parabéns para a Martha! 


Dispersos
...

Vou ali chorar e volto.
Juntarei minhas mãos em concha
depositarei lágrimas, com cuidado, até as bordas
e entregarei à terra.
Desse encontro vingará
a cabeceira do rio.

Seu leito não aceitará cuidados
pois é mais forte que eu.
Sulcos de lodo e segredos,
matas de alegria, pedras indomáveis,
sedimentos de saudade e amores mal acabados.

Amanhã chorarei de novo
depois de amanhã também
para alimentar seu curso
de água, sal, sofrimento.
Nesse rio caudaloso
banharei o transtorno, a urgência,
a virulência do sentimento.

Em sua foz,
um dia,
me deitarei
e morte.

Martha (Brasil)

10 de maio de 2013

UMBILICAL PÁRA-QUEDAS


Se voar é de asas abertas

Em replay põem-se a nu as cicatrizes.

Tudo é nada mais senão o vento
que faz assobiar e sublima cantos
tocar o céu pelo penteado da montanha
até ceder à lei de gravidade

Houve sempre uma mão
houve sempre uma mãe.



Gociante Patissa (Angola)

in «III Antologia de Poetas Lusófonos», 2010. Folheto Edições e Design, Leiria - Portugal


7 de maio de 2013

Não sou de cor, sou negra


Cecile Kyenge, uma oftalmologista e cidadã italiana originária da República Democrática do Congo (RDC), foi nomeada ministra da Integração por Enrico Letta Foto: AP

“Não sou de cor, sou negra”


Cecile Kyenge
A nova ministra da integração italiana foi obrigada esta sexta-feira a organizar uma conferência de imprensa para denunciar os insultos racistas contra ela.
Cecile Kyenge, de origem congolesa, é a primeira mulher africana a ocupar um cargo no governo do país.
Na origem dos insultos está a extrema-direita e, em particular, o projeto da ministra de conceder a nacionalidade italiana aos filhos de imigrantes nascidos no país.
“Eu não sou de cor, sou negra, e é importante dizê-lo em público e com muita honra. Temos que derrubar estes muros. O ceticismo e a discriminação só aumentam quando os cidadãos se recusam a conhecer o ‘outro’. A imigração é uma riqueza e as diferenças são um recurso importante para este país”, afirmou Kyenge.
Desde a sua tomada de posse que a nova ministra é alvo de insultos.
Um eurodeputado italiano do partido Liga Norte referiu-se ao novo executivo, como um governo “bonga bonga” (alusão às festas “bunga bunga” organizadas pelo ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi).
Nos sítios internet da extrema-direita multiplicam-se os apelidos racistas da ministra, como “zulu” ou “a negra anti-italiana”.
Afirmações que, para Kyenge são, antes mais, “reveladoras de uma profunda ignorância”.
Retirado de pt.euronews.com 


DIGA NAO AO RACISMO!